Dando continuidade à tarde de palestras e debates do M&A Connect, evento organizado pela Leaders League que reúne os principais nomes do mercado brasileiro de fusões e aquisições, foi realizado o painel “Special Situations: Distressed M&A e M&A como Ferramenta de Crescimento e Consolidação: Desafios e Oportunidades”.
A conversa contou com a participação de Gabriel Barretti, MD Partner Special Situations do BTG Pactual, Gustavo Tachibana, Managing Partner do RPC Par, Pyr Marcondes, Senior Partner da Pipeline Capital, e Alberto Sansiviero Jr., Senior Partner & COO da Pipeline Capital.
Os especialistas analisaram o cenário atual, compararam com anos anteriores e destacaram o impacto das condições macroeconômicas, bem como o papel crescente da tecnologia e da inteligência artificial nesse tipo de transação.
O Crescimento dos Fundos de Special Situations
Gustavo Tachibana foi o responsável por abrir o debate, trazendo uma análise do atual momento do mercado brasileiro, especialmente em comparação com períodos anteriores. Ele destacou a evolução do setor e a diversidade de fundos que surgiram nos últimos anos, ampliando as possibilidades para investidores e empresas que buscam oportunidades em meio à adversidade.
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“Há dez anos, não tínhamos tantos fundos voltados para esse tipo de operação. Hoje, existem fundos para todos os pontos da curva de risco-retorno, indo de CDI +3 até CDI +20. O cenário atual de juros tem dois lados: de um lado, há muitas transações de pessoas que gostariam de realizar M&As, mas não querem assumir um endividamento alto, o que dificulta a decisão. Do outro, quando a situação da empresa já está insustentável, a transação se torna praticamente impossível. Quanto menor a visibilidade do futuro, mais difícil é viabilizar um negócio. Nesse contexto, a criatividade é essencial para estruturar transações viáveis”
Tachibana enfatizou que, apesar das dificuldades, o crescimento do número de fundos especializados tem permitido que investidores encontrem oportunidades mesmo em cenários adversos. Além disso, destacou a importância da flexibilidade e da inovação na estruturação das operações, especialmente quando o acesso ao crédito está mais restrito.
Complementando a análise de Tachibana, Alberto Sansiviero Jr. trouxe a visão da Pipeline Capital sobre o mercado middle market, destacando como um planejamento bem estruturado pode facilitar os resultados finais das negociações. Ele apontou que o atual cenário global, marcado por conflitos geopolíticos, taxas de juros elevadas e políticas econômicas instáveis, tem impactado diretamente as empresas e influenciado as decisões de M&A.
“Hoje, estamos vivenciando, na prática, um mercado estressado. Esse cenário se reflete diretamente no Brasil, e nosso papel é ajudar os clientes a entender como o M&A pode ser uma ferramenta nesse momento. Quando o mercado está estressado, a maioria dos gestores adota uma postura mais cautelosa e ponderada, já que enfrentam maior restrição de capital e dificuldades para conseguir financiamento. Isso impacta diretamente as transações. Nossa resposta para esses desafios está no planejamento e na execução. Desenvolvemos um conceito de planejamento para nossos clientes, levando em conta o nível de governança de cada empresa. Em momentos de estresse no mercado, contar com um planejamento sólido e um bom conjunto de assessores faz toda a diferença na realização dos negócios”
Sansiviero ressaltou que, em momentos de incerteza econômica, as empresas que se preparam melhor, seja em termos de governança ou de estruturação financeira, conseguem navegar com mais segurança e encontrar alternativas viáveis para seus desafios.
O Papel da Tecnologia e da Inteligência Artificial no M&A
A discussão então avançou para um tema que tem ganhado cada vez mais relevância no mercado de Distressed M&A: o uso da tecnologia e da inteligência artificial (IA) como ferramentas para melhorar a eficiência das transações. Pyr Marcondes conduziu essa parte do debate, trazendo questionamentos sobre como a IA pode otimizar processos, reduzir riscos e tornar as operações mais estratégicas.
Gabriel Barretti, do BTG Pactual, destacou que o banco vem utilizando ferramentas tecnológicas desde 2016 e que, mais recentemente, a IA tem sido incorporada como um suporte fundamental na tomada de decisões de negócios.
“A inteligência artificial está transformando o mercado, mas ainda não atingiu todo o potencial esperado. No BTG, temos cerca de 8.000 funcionários, e metade deles atua na área de TI e tecnologia. Começamos a incorporar IA em 2016, quando entramos no mercado de varejo, e hoje utilizamos a tecnologia para diversos fins. Um exemplo interessante é um sistema que desenvolvemos para precatórios. Ele nos permite mapear e processar automaticamente essas operações, tornando-as mais ágeis e assertivas. Além disso, estamos explorando formas de usar IA para monitorar empresas nas quais investimos, captando informações em tempo real e facilitando a tomada de decisões estratégicas”
Já Tachibana ressaltou que, embora a IA ainda tenha um papel secundário no segmento de distressed M&A, sua aplicação tem sido valiosa para ajudar na condução de negociações, especialmente quando envolvem disputas familiares ou questões sensíveis.
“Nosso mercado ainda utiliza pouco IA, mas temos visto um crescimento expressivo de transações nesse setor. No distressed M&A, o maior desafio não é técnico, e sim psicológico. Muitas vezes, lidamos com disputas familiares e conflitos internos que dificultam a negociação. Para isso, desenvolvemos um software que nos ajuda a traçar perfis psicológicos das partes envolvidas. Assim, conseguimos entender melhor o histórico das pessoas e suas motivações antes de conduzir uma mediação ou negociação”
Tachibana explicou que, ao compreender melhor o perfil das partes envolvidas, os investidores e assessores conseguem estruturar negociações mais eficientes e menos conflituosas, aumentando as chances de sucesso das transações.