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Negócios & Transações

M&A Connect: painel discute como incertezas globais afetam o mercado brasileiro

No M&A Connect, especialistas destacam como a volatilidade econômica e política afeta fusões e aquisições no Brasil, enquanto investidores adaptam estratégias para manter o ritmo das transações.

A primeira edição do M&A Connect, evento realizado nesta quinta-feira (03) no Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo, reuniu a comunidade de dealmakers para um dia de discussões e networking. A programação teve início com o painel “Cenário Atual de M&A no Brasil: Tendências e Perspectivas”, que trouxe uma análise aprofundada sobre os desafios e oportunidades do setor.

O debate foi mediado por Alexandre Pierantoni, Managing Director da Kroll, e contou com a participação de Ana Karolyna Schenk, Managing Director do Bradesco BBI, José Roberto Lettieri, Conselheiro da CIMED, e Felipe Barreto Veiga, sócio do BVA – Barreto Veiga Advogados.

Impacto do cenário global nas transações de M&A

Abrindo o painel, Pierantoni destacou a imprevisibilidade que tem marcado o mercado global de fusões e aquisições, reforçando como os movimentos da economia americana influenciam diretamente as operações em outros países, incluindo o Brasil. Segundo ele, a volatilidade causada pelas políticas dos Estados Unidos adiciona um nível extra de complexidade às decisões estratégicas das empresas.

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“Dentro desse contexto, continuamos fazendo M&A, e isso é algo positivo. Eu acho que, se a gente tivesse essa conversa em janeiro, eu e meus amigos nos EUA e na Europa falávamos que seria o melhor ano de M&A do mundo. Porém, na terceira semana, já parou. Quando você traz mais risco, não estamos em um ambiente de construção, mas sim em um ambiente de extremos, que serão negociados”, disse.

Schenk abordou o cenário desafiador do M&A no Brasil, ressaltando que, apesar das dificuldades, o mercado segue ativo, principalmente no middle market, que mantém um ritmo consistente de negociações. Segundo ela, fatores como o alto custo de capital e a inflação pressionam as operações, mas não impedem que empresas continuem buscando oportunidades estratégicas.

“A gente está vendo um contexto macro muito desafiador: custo de capital elevado, inflações altas e o governo tentando segurar, o que deixa o M&A mais complexo. Antes, eu estava na TOTVS, onde o M&A é um dos pilares centrais, então a empresa continua fazendo mesmo nesse cenário. Empresas como essa seguem ativas, ou seja, ainda existe apetite desses players em todos os setores”, detalhou.

Ela também destacou que, enquanto as empresas continuam realizando transações, os investidores financeiros adotam uma postura mais cautelosa. O foco, segundo Schenk, está na segurança do investimento e na previsibilidade dos retornos.

“Eles têm capital para investir, mas só colocam dinheiro onde têm muita confiança no crescimento e na saída do capital. Temos visto muitas empresas se posicionando para fazer IPOs quando o mercado abrir — tenho visto muito disso — e os fundos buscando unicórnios para entrar. É um cenário desafiador, mas as empresas continuam. Muita gente tem postergado ou parcelado as transações, às vezes o pagamento não é em cash. Tenho visto muita discussão sobre troca de ações. Então, o mercado está se adaptando a esse cenário desafiador. Muita gente está se preparando para fazer transações no segundo semestre, porque o ano que vem, com eleições, tende a ser ainda mais complicado. Por isso, esse segundo semestre deve ser mais aquecido”, completou.

Barreto trouxe uma perspectiva do investidor estrangeiro sobre o Brasil, analisando o impacto das tarifas e das políticas do governo americano. Segundo ele, o país se mantém como um destino atrativo para alocação de capital, especialmente quando comparado a outros mercados da América Latina.

“Quando a gente olha para o Brasil, temos uma posição privilegiada. Tirando a Argentina, os outros países da América Latina estão passando por momentos difíceis. Então, somos um destino certo para alocação de capital, o investidor tem que olhar para o Brasil. Às vezes, achamos que, por causa do câmbio, o Brasil está parado, mas não é assim — o investidor olha o todo. Estamos tendo um superávit e vimos um resgate de capital estrangeiro no Brasil. Somos um destino sólido e temos visto um aumento nas aquisições cross-border, com estrangeiros comprando empresas aqui”, afirmou.

O advogado também chamou atenção para a reforma tributária, que pode afetar a atratividade do Brasil para investidores estrangeiros. A tributação de dividendos e outras mudanças regulatórias podem impactar diretamente a forma como essas empresas estruturam suas operações no país.

“Nos próximos anos, ainda há a questão da reforma tributária. Agora temos a tributação de dividendos, e lá fora essa tese de dividendos já é consolidada. No passado, o maior desafio para aprovações eram os órgãos reguladores, que demoravam. Hoje, percebemos que o processo está se alongando não só na auditoria, mas também nas negociações dos mecanismos de preço e pagamento da transação. Os vendedores também estão preocupados com o preço de venda e se o negócio será vantajoso no longo prazo”, disse. 

Encerrando o painel, Lettieri discutiu como as empresas estão lidando com o ambiente pós-negociação e fechamento de negócios. Ele destacou que a complexidade do Brasil faz com que as transações levem mais tempo para serem concluídas, diferentemente do que acontece na Europa, onde os processos são mais padronizados.

“A grande diferença entre as transações do passado e as de agora depende muito de duas coisas. Primeiro, da praça onde você está fazendo a transação. Quando a negociação acontece em um país como o Brasil, que tem uma complexidade maior, naturalmente o tempo do processo se alonga — seja na fase de construção do valuation, no due diligence ou na elaboração dos contratos. Isso acontece por conta da complexidade do ambiente. Já em transações exclusivamente entre países europeus, normalmente o processo é mais rápido. As coisas são mais padronizadas, a economia é mais estável, e isso facilita”, pontuou.

Além disso, Lettieri ressaltou a importância de escolher bons assessores para garantir que as transações sejam bem estruturadas e eficientes. Segundo ele, a experiência dos profissionais envolvidos pode fazer uma grande diferença no tempo e no sucesso do deal.

“Saber com quem você vai trabalhar naquele deal faz toda a diferença. Escolher bem os assessores, o auditor, o banco de investimento, o assessor jurídico e até a plataforma que será adquirida impacta diretamente na velocidade do deal”, concluiu.