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ESG

'Há poucas décadas não tínhamos um parlamentar LGBTQIAP+ assumido no Congresso'

Na segunda entrevista da série Especial do Orgulho, conversamos com Silas Cardoso de Souza, sócio de regulação e relações governamentais do VMCA Advogados

Há diferentes realidades, demandas e lutas por direitos dentro da mesma comunidade LGBT+. É o que observa Silas Cardoso de Souza, sócio de regulação e relações governamentais do VMCA Advogados, na segunda entrevista da série Especial do Orgulho, que convida à discussão sobre o conjuntura da população LGBT+ neste Dia Internacional do Orgulho LGBT+, celebrado dia 28 de junho.

“Por certo, há que se comemorar cada pequeno avanço, seja em conquista de direitos, seja em termos de representatividade – há poucas décadas não tínhamos sequer um parlamentar LGBTQIAP+ assumido no Congresso, por exemplo. Mas também há que se reconhecer que há muito por fazer, que ainda sofremos violência nas suas múltiplas formas – simbólica, física, psíquica. E que a LGBTfobia é perpassada por outras violências e discriminações, como raça, gênero e classe. Por exemplo, a realidade do gay branco que mora no centro expandido de São Paulo é muito diferente da trans preta e periférica na mesma cidade”, analisa.

 

Leia na íntegra:

Hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. O que há para se comemorar?

Acima de tudo, o 28 de junho é uma data de orgulho e afirmação de quem somos, da nossa identidade. Orgulho das gerações anteriores, que lutaram e desbravaram caminho pra que chegássemos até aqui. Por certo, há que se comemorar cada pequeno avanço, seja em conquista de direitos, seja em termos de representatividade – há poucas décadas não tínhamos sequer um parlamentar LGBTQIAP+ assumido no Congresso, por exemplo. Mas também há que se reconhecer que há muito por fazer, que ainda sofremos violência nas suas múltiplas formas – simbólica, física, psíquica. E que a LGBTfobia é perpassada por outras violências e discriminações, como raça, gênero e classe. Por exemplo, a realidade do gay branco que mora no centro expandido de São Paulo é muito diferente da trans preta e periférica na mesma cidade.

 

Qual sua percepção sobre o atual panorama de direitos LGBT+?

É verdade que temos avançado no reconhecimento de direitos, como casamento, criminalização da LGBTfobia e direito à retificação do registro civil para pessoas trans. Mas infelizmente, esses avanços ocorrem por meio do judiciário, e não do legislativo, o que torna esses avanços mais frágeis e suscetíveis a alterações na composição dos tribunais.

 

Quais foram os seus principais desafios profissionais como uma pessoa LGBT+?

Especialmente no começo da minha vida profissional, eu não falava sobre a minha orientação sexual. Não negava, mas também não afirmava. Era uma tentativa de me encaixar naqueles ambientes, nas conversas de corredor, nos cafezinhos, num determinado perfil profissional que é em regra heteronormativo. O fato é que ao esconder a sexualidade, a gente não consegue ser 100% o que é. Hoje, entendo que falar da minha orientação sexual, da minha identidade, tem um papel político e afirmativo no ambiente de trabalho. Especialmente na posição de sócio, isso pode ajudar a que outras pessoas se sintam mais à vontade para expressar sua sexualidade e identidade de gênero.

 

Quais são as particularidades para profissionais LGBT+ no mercado jurídico, principalmente na área regulatória?

O mundo jurídico e do poder é estruturalmente machista, branco e heteronormativo. Isso faz com que pessoas que não se encaixam nesses padrões tenham maior dificuldade em se estabelecer profissionalmente e conquistar seus espaços. Mas a experiência te ensina a como se afirmar e navegar nesses ambientes, e mostra que, por mais que os obstáculos sejam maiores, é possível conquistar seu espaço com um trabalho de qualidade.

 

Como o VMCA Advogados trata temas de diversidade? Existem políticas específicas para grupos minoritários?

Diversidade e inclusão são valores fundamentais no VMCA. Tenho muito orgulho de dizer que faço parte de um escritório que dos quatro sócios três são mulheres e o outro é um homem gay. Além disso, praticamos políticas afirmativas no nosso processo de recrutamento em relação a grupos minoritários. Não à toa, temos também maioria de mulheres entre nossa equipe de advogadas e estagiárias. Um outro elemento importante é a nossa preocupação em fazer do escritório um ambiente acolhedor, onde todos e todas possam ser quem são, sem medo de como isso vai afetar a sua vida profissional ou carreira. Por fim, mas não menos importante que o problema de inclusão e diversidade na advocacia começa já no acesso à educação. Por isso que prestamos serviço pró-bono e participamos de iniciativas como o Projeto de Promoção à Dedicação Acadêmica – PPDA, que apoia alunos negros e de baixa renda no acesso ao ensino superior jurídico. De certo que esse é um processo constante, de aprimoramento contínuo, e que precisamos estar sempre atentos a buscar implementar na prática os valores nos quais acreditamos.

 

Confira as outras entrevistas da série: