Em entrevista para o Especial do Orgulho, André Filipe Kend Tanabe, sócio do Davi Tangerino Advogados, fala sobre a atuação dos profissionais LGBT+ no âmbito do Direito Penal.
“O criminalista deve ter a sensibilidade de conhecer seu interlocutor, força para lidar com situações extremas e buscar o melhor resultado diante das circunstâncias que se impõem. É fundamental lembrar que, enquanto advogados, estamos representando pessoas que nos confiaram sua defesa mais importante. Assim, sem deixar de impor respeito e demonstrar conhecimento sobre seus direitos, o criminalista deve saber colocar seus interesses em segundo plano na defesa intransigente dos direitos daqueles que o constituíram como defensor”, afirmou.
A série de entrevistas tem o objetivo de convidar sócios dos principais escritórios de advocacia brasileiros em diferentes áreas para discutir os panoramas dos direitos civis no Dia Internacional do Orgulho LGBT+, celebrado neste dia 28 de junho.
Confira a entrevista na íntegra:
Hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. O que há para se comemorar?
O amor e a vida, em todas as suas cores.
Qual sua percepção sobre o atual panorama de direitos LGBT+?
Há uma frase atribuída à Ruth Bader Ginsburg, então juíza da Suprema Corte Estadunidense, sobre quantas mulheres seriam suficientes na Suprema Corte para atingir a igualdade. Perguntada, ela respondeu “Nove [composição total do tribunal]. Já houve nove homens e ninguém nunca questionou isso”. Embora seja possível dizer que o panorama de direitos dos grupos sociais historicamente vulneráveis vem evoluindo, ainda há muito a fazer. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal equiparou a homofobia ao crime de racismo, pela inércia do legislador (o que não é ideal). Isso demonstra a necessidade de evolução do panorama legislativo. Ocorre que a sociedade não muda a partir das leis, senão o contrário. Assim, educação e conscientização, contato com o diferente e ações afirmativas são fundamentais para garantir uma sociedade verdadeiramente plural e justa, na qual possamos ver, com naturalidade, 11 ministras, 11 ministros LGBTQIAPN+, 11 ministros negros e assim em diante.
Quais foram os seus principais desafios profissionais como uma pessoa LGBT+?
Encontrar um ambiente acolhedor. Por vezes, trabalhamos em ambientes livres de homofobia e não sabemos disso, porque o tema não é abordado. Soma-se a isso o desafio de trazer o tema proativamente, porque não sabemos quais consequências isso pode gerar. É por essa e outras que afirmar publicamente que a empresa/escritório acolhe, respeita e incentiva profissionais LGBTQIAPN+ (anunciar o básico) é tão importante. Ser você mesmo e poder se concentrar no trabalho é fundamental.
Quais são as particularidades para profissionais LGBT+ no mercado jurídico, em especial na área Penal, na qual você está ranqueado como Líder pela Leaders League Brasil?
O cotidiano do Judiciário e das polícias em geral ainda é muito machista (o que se evidencia de início pela composição dos nossos tribunais). O criminalista deve ter a sensibilidade de conhecer seu interlocutor, força para lidar com situações extremas e buscar o melhor resultado diante das circunstâncias que se impõem. É fundamental lembrar que, enquanto advogados, estamos representando pessoas que nos confiaram sua defesa mais importante. Assim, sem deixar de impor respeito e demonstrar conhecimento sobre seus direitos, o criminalista deve saber colocar seus interesses em segundo plano na defesa intransigente dos direitos daqueles que o constituíram como defensor.
Como o Davi Tangerino trata temas de diversidade? Existem políticas específicas para grupos minoritários?
Nosso escritório busca abraçar as mais diversas causas e equilibrar o time com profissionais de diversas origens, gêneros e orientações sexuais. O Código de Conduta do escritório é claro sobre isso e temos um Comitê de Diversidade, que se reúne periodicamente para discutir projetos, eventos e artigos. Consideramos que a diferença enriquece e nos permite enxergar problemas por mais ângulos, aumentando a disponibilidade de soluções e impulsionando nosso crescimento.
Confira as outras entrevistas da série:
- Anelise Doumid Damasceno, do Andrade Maia Advogados
- Silas Cardoso de Souza, sócio do VMCA Advogados
- Luciana Martorano, sócia do Campos Mello Advogados
- Lorena Borges Botelho, sócia do Peck Advogados
- Luciano Inácio de Souza, sócio do Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados
- Renato Valença, sócio do Martins Villac Advogados
- Marcel Fracarolli Nunes, sócio do Trench Rossi Watanabe Advogados