Nos últimos anos, a Arábia Saudita tem dado grandes passos para se tornar uma superpotência no mundo do entretenimento. Com a sua nova estratégia de investimento em Esportes, o país tem conseguido uma transformação inédita em sua imagem e posição internacional.
Com o financiamento do Public Investment Fund (PIF) – um dos maiores fundos soberanos do mundo, com mais de US$ 700 bilhões em ativos –, a Arábia Saudita tem feito investimentos significativos na indústria do entretenimento. Um exemplo claro disso é o impacto recente do PIF no mundo do golfe, com a criação da Liga LIV Golf, desafiando a hegemonia da PGA Tour. Sobre isso vale ouvir o episódio do The Daily, do The New York Times, intitulado “How Saudi Arabia Took on Pro Golf – and Won”:
Paralelamente, a incursão do país no universo dos esports e games tem sido notável, com a Folha de São Paulo destacando os bilhões de dólares investidos por parte da Arábia Saudita nesses setores. O país tem o objetivo de se tornar o principal centro global de esportes em até sete anos, com planos de investir cerca de US$ 38 bilhões nesse período.
A vez do futebol
Agora, a Arábia Saudita está se voltando para o futebol. Segundo a Variety, o PIF adquiriu participações de 75% em quatro clubes da Saudi Pro League (SPL), com a intenção de revolucionar o cenário do futebol.
A liga, que existe desde 1976, tem atraído nomes de peso como Cristiano Ronaldo e há rumores de que um time da SPL poderia fazer de Kylian Mbappé o atleta mais bem pago de todos os tempos.
Os investimentos maciços da Arábia Saudita no futebol têm o potencial de mudar a paisagem do futebol europeu, transferindo poder para a Ásia.
Com uma audiência de 4,7 bilhões de pessoas na região, a mudança poderia levar o futebol de primeira linha a um mercado significativamente maior, fortalecendo a Confederação Asiática de Futebol (AFC) em detrimento da UEFA (União das Associações Europeias de Futebol).
Esse movimento também pode perturbar a transmissão tradicional de jogos, que tem se baseado há muito tempo nas ligas europeias e na UEFA Champions League.
Com os melhores jogadores se mudando para a Ásia, por que as emissoras continuariam a pagar somas exorbitantes pelos direitos de transmitir competições europeias?
Críticas e rumo à Copa do Mundo
No entanto, os avanços da Arábia Saudita no mundo do entretenimento também têm sido alvo de críticas.
A estratégia de usar o esporte para melhorar sua reputação e desviar a atenção de questões de direitos humanos é vista por muitos como um caso de sportswashing.
É fundamental lembrar que a atração de talentos estrangeiros – sejam eles jogadores de futebol ou não – pode ser comprometida se certos padrões de liberdade civil não forem cumpridos.
O ambiente social no reino deve mudar para garantir que os talentos não sejam apenas recrutados, mas também retidos.
A Arábia Saudita tem como meta sediar a Copa do Mundo da FIFA em 2030. Se o país implementar mudanças sociais e atrair jogadores para a liga, isso seria um grande impulso para sua candidatura ao Mundial, bem como a sustentabilidade para tornar a SPL uma das melhores ligas do mundo.
Com essas ações, a Arábia Saudita está demonstrando o que pode ser alcançado quando há apoio para uma estratégia e visão de longo prazo. Contudo, somente o tempo dirá se essas investidas serão bem-sucedidas.
Fábio de Sá Cesnik é sócio-fundador do CQS/FV Advogados É graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente de Relações Institucionais da Câmara de Comércio Brasil-Califórnia (BCCC). E-mail: cesnik@cqsfv.com.br.