Você pode nos contar um pouco da sua jornada profissional até chegar à posição de CEO do Banco do Brasil?
Comecei minha trajetória profissional como feirante e professora, antes de iniciar a carreira no Banco do Brasil em março de 2000. Assumi o primeiro cargo de gestão no BB em 2002 e, em janeiro de 2023, assumi, com humildade e coragem, o cargo de CEO do BB.
Sou bacharel em Administração de Empresas, pós-graduada em Administração, Negócios, Marketing, Liderança e Inovação; Possuo MBA em BI e Analytics, além de formação para atuação em cargos de alta gestão executiva. Por 10 anos, exerci diversas funções no Banco pelo país. Por exemplo, fui responsável pelo desenvolvimento de estratégias para distribuição de produtos ligados principalmente aos mercados de pessoas físicas e de agronegócios. E atuei em projetos para prospecção, gestão e automação de convênios para concessão de crédito, expansão da atuação com correspondentes bancários e na implementação de estratégias de relacionamento com clientes.
Tenho muitas histórias para contar, desde a minha primeira experiência profissional, no tempo em que eu era feirante em Campina Grande, lá na Paraíba. De lá pra cá, muita coisa mudou, mas um valor que carrego comigo é que relacionamento se constrói com confiança e respeito. E é por isso que quando assumi a responsabilidade de conduzir uma empresa tão importante para a vida dos brasileiros, reforcei meu compromisso com os funcionários, clientes, acionistas e com toda a sociedade.
Ser a primeira mulher a presidir o Banco do Brasil em 215 anos de história é motivo de muito orgulho para mim. E nossos resultados demonstram que estamos num ótimo caminho, conciliando aspectos comerciais com o desenvolvimento social e sustentável do país.
Quais são os principais desafios que você identifica atualmente no setor financeiro e como planeja abordá-los no seu novo cargo?
Os desafios são grandes, do tamanho de uma empresa bicentenária. Um dos principais desafios é o de demonstrar que é, sim, possível aliar uma atuação pública com a nossa atuação comercial para executar nossa estratégia corporativa. E isso tem dado muito certo. Temos ainda, no setor financeiro como um todo, o desafio de avançar na educação e inclusão financeira.
Nós fomos o primeiro banco a realizar, em 2023, testes com o Real Digital, o Drex, que será a porta de entrada para uma economia tokenizada. Contabilizamos 5,2 bilhões de transações via Pix em 2023. Estamos falando de 3,7 trilhões de reais transacionados por pix no BB no ano passado, um aumento de 39% na comparação com 2022, o que nos garante mais esta posição de liderança. Só em 5 segundos, por exemplo, são quase 3 mil pix que passaram pelo BB. É a economia brasileira que pulsa forte pelo Banco do Brasil.
Outro ponto: contribuir para a construção de uma economia mais verde, reforçando o nosso compromisso com a sustentabilidade socioambiental, com investimento em tecnologia. Criamos uma Unidade específica para tratar de temas ASG de modo transversal no Banco do Brasil, junto com todas as demais áreas do Banco. Além da sustentabilidade, temos avançado muito na pauta da diversidade também, que é uma das marcas da nossa gestão.
Em sua opinião, quais são as oportunidades emergentes para instituições financeiras no contexto atual?
Certamente, a tecnologia, mas não simplesmente se dar o conceito de “banco digital”. Estamos com imensas oportunidades no âmbito de Open Finance, por exemplo. E o Banco do Brasil tem aproveitado e atua na vanguarda de muitos desses movimentos.
A atuação digital do BB é robusta, eficiente e, talvez o principal: tem foco em soluções que levem negócios hiperpersonalizados para os nossos clientes. Isso é possível aliando soluções de tecnologia e assessoria humana. Nossas áreas de tecnologia atuam em sintonia com as áreas de negócios e clientes, com objetivo de promover a melhor experiência a nossos clientes em todos os pontos de contato, sejam eles físicos ou digitais.
Por falar nisso, lançamos em Recife um novo modelo de atendimento, com uso ainda mais intensivo de tecnologia, foco no relacionamento com os clientes e pautado pela sustentabilidade, com a promoção de negócios ASG e desenvolvimento social. É o que chamamos de .BB (PontoBB). Esse espaço foi transformado para celebrar a cultura pernambucana de forma multissensorial. Mas vai além do espaço físico. Trata-se de oferecer um banco pra cada cliente e de trazer conveniência de soluções digitais numa jornada que integra cultura, tecnologia, esporte e sustentabilidade.
Temos incrementado os investimentos para acelerar a nossa transformação digital, trazendo novas frentes de engajamento, novas formas de fazer negócios e de trabalho, suportadas por nossa transformação cultural. Isso tem feito a diferença no nosso jeito de ser BB. O setor financeiro atua em uma arena de concorrência acirrada. Mas temos conseguido gerar valor aos nossos clientes e acionistas.
Como líder, qual é a importância que você atribui à promoção da diversidade e inclusão, especialmente no que diz respeito à representação das mulheres em cargos de liderança? Quais estratégias você pretende implementar para promover um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo no Banco do Brasil?
A maior importância. A busca pela equidade e inclusão é uma pauta fundamental e forte para evolução dos direitos humanos. Na nossa gestão, a diversidade é questão primordial. Digo que é uma das marcas que quero deixar e temos conquistado importantes resultados tanto para equidade de gênero como para a inclusão da população preta e parda.
Nomeamos três mulheres, para as vice-presidências Varejo; Negócios Digitais; e Corporativa. Com isso, outro fato inédito: pela primeira vez na história, o Banco do Brasil tem 45% de mulheres, 22% de pessoas negras e dois membros autodeclarados do grupo LGBTQIAPN+ em seu Conselho Diretor.
O BB lançou novos compromissos públicos em seu planejamento de sustentabilidade. Dentre eles, destaque para um avanço na meta de chegar, até 2025, a, pelo menos, 30% de mulheres em cargos de liderança. Temos promovido eventos sobre diversidade, dentre eles Conselhos Consultivos, que reúnem representantes do Banco e especialistas da sociedade civil, para abordar temas sobre raça e etnias, gênero, gerações, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e neurodivergências. Nosso Conselho de Administração está entre os mais diversos do mercado, com posição destacada no índice IDiversa na Bolsa de Valores (B3), por atuar como referência em diversidade em nossa sociedade contemporânea.
Estabelecemos um comitê dedicado à promoção da diversidade. Além disso, conquistamos outros grandes marcos: o BB tornou-se embaixador de três compromissos junto ao Pacto Global das Nações Unidas, com destaque para os movimentos “Elas Lideram”, visando a igualdade de gênero, e “Raça é Prioridade”, promovendo a representatividade de pessoas negras, indígenas e de outros grupos étnicos sub-representados em cargos de liderança.
Essas iniciativas renderam reconhecimentos significativos tanto nacional quanto internacionalmente. Em março desse ano, inclusive, o próprio Pacto Global ONU Brasil nos reconheceu com prêmios do Ambição 2030 da ONU.
São reconhecimentos que reforçam que nossas ações priorizadas na estratégia do BB têm demonstrado impacto positivo para clientes, funcionários, fornecedores e demais parceiros estratégicos, contribuindo para a inclusão financeira e a geração de trabalho e renda. A diversidade é questão central da nossa gestão e temos conquistado importantes resultados tanto para equidade de gênero como para a inclusão da população preta e parda.
Claro que os desafios continuam, mas temos conseguido atuar na vanguarda, puxando pelo exemplo.
Como você enxerga o papel das mulheres no setor financeiro e jurídico, e quais conselhos daria a mulheres que aspiram a cargos de liderança nessas áreas?
O setor financeiro e o setor jurídico já foram de imensa maioria masculinos, mas isso vem mudando, ao longo do tempo. Eu sou a primeira presidente mulher do BB, em 215 anos de empresa. A área jurídica do BB é liderada por uma diretora mulher. A nossa Unidade de Relações com Investidores também tem uma gerente geral. As nossas nomeações significam o reconhecimento à competência técnica e comprometimento desse time Banco do Brasil.
O papel das mulheres nesses setores, e em todos os outros, é fundamental. E é fundamental também termos ambientes diversos, com gente de todo jeito, gente de todo lugar do país, de todas as regiões. Promover pluralidade de ideias é saudável e contribui para abrir horizontes e conquistar oportunidades.
Para as mulheres que aspiram a cargos de liderença, desejo força, coragem e persistência. Temos, sim, que enfrentar o machismo. Por vezes, duvidam da nossa capacidade apenas por sermos mulheres. Mas precisamos seguir em frente. Devemos estudar, manter nossos valores, nunca esquecer das nossas raízes e de quem está ao nosso lado na caminhada da vida. Precisamos lembrar que não fazemos nada sozinhos. Um líder, uma líder, é uma equipe.
Sou funcionária de carreira do BB, onde trabalho há 22 anos. Os líderes e as líderes que passaram pela minha trajetória fizeram diferença em quem eu sou hoje. Agradeço a elas e a eles. Agradeço à minha família. E hoje, trabalhamos (no plural, sempre) para ter o orgulho de pertencimento, o protagonismo, a capacidade inovadora e o justo reconhecimento dos resultados alcançados, para o time BB.
Quais são suas principais metas e visões para o Banco do Brasil sob sua liderança nos próximos anos?
O Banco do Brasil carrega o Brasil no nome. Ajudar a fazer o país crescer está entre as nossas metas. Seguiremos atuando com foco no agronegócio e na agricultura familiar, na parceria com empresas de pequenos empreendedores brasileiros até as grandes companhias, no mercado brasileiro e no comércio exterior, além de atuar, claro, junto com os clientes pessoa física, com força no crédito consignado, por exemplo.
Prevejo boas perspectivas tanto nos negócios, como para atuação da nossa marca em frentes importantes, como esporte e sustentabilidade. Vamos continuar avançando em investimentos nas inovações digitais e o BB seguirá ainda com grandes destaques institucionais, como com o apoio à cultura, com nossos Centros Culturais do Banco do Brasil, os CCBBs, que estão posicionados entre os museus mais visitados do mundo.
A diversidade, como já comentei, vai ser uma das marcas dessa gestão. Acredito que isso enriquece o debate de ideias, a proposição de soluções e a tomada de decisões que geram impactos econômicos, sociais e ambientais positivos. Sim, a diversidade tem o poder de trazer impactos econômicos importantes. Empresas diversas têm retornos financeiros melhores e ocupam lugar central na pauta negocial. Este é um tema totalmente aderente aos interesses dos nossos acionistas, clientes e sociedade.
Enfim, seguiremos cada vez mais comprometidos com o propósito de ser próximo e relevante na vida das pessoas em todos os momentos. atuando com a geração de negócios de valor e com uma atuação pública. Seguiremos com a gestão adequada de capital, capaz de sustentar o crescimento da nossa oferta de crédito de forma criteriosa, dando resultados do tamanho do nosso Banco do Brasil.
Recentemente, divulgamos o maior resultado da história do banco, um lucro de mais de R$ 35 bilhões, em 2023. E as expectativas para o futuro são as melhores.