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Negócios & Transações

Retrospectiva M&A 2024: Cosmos Advisors

Os sócios da Cosmos Advisors, João Lipai e Pablo Almeida, produziram com exclusividade um artigo analisando o mercado de M&A em 2024 e apresentando projeções para 2025.

O mercado de fusões e aquisições (M&A) no Brasil em 2024 enfrentou desafios significativos, moldados por um ambiente macroeconômico complexo e mudanças regulatórias de grande impacto. Fatores como a reforma tributária e a volatilidade cambial, especialmente a valorização do dólar, influenciaram diretamente as atividades de M&A no país. Este artigo analisa os principais desafios macroeconômicos, as alterações regulatórias que afetaram o mercado de M&A, apresenta um balanço das atividades no ano e projeta 2025.

Desafios Macroeconômicos em 2024

Em 2024, o Brasil enfrentou um cenário macroeconômico desafiador, caracterizado por inflação persistente e taxas de juros crescentes, que impactaram o custo de capital e as decisões de investimento. O alto custo de capital desestimulou investimentos produtivos, deslocando recursos para ativos de menor risco, como títulos públicos. A dívida pública bruta atingiu 78,6% do PIB em outubro, um aumento em relação aos 78,2% registrados no mês anterior (Reuters). Esse crescimento reflete preocupações fiscais que afetam a percepção de risco do país.

A volatilidade cambial também desempenhou um papel crucial. O dólar ultrapassou a marca de R$6,00 em novembro, atingindo um recorde histórico devido, principalmente, às reações negativas do mercado à proposta de reforma do Imposto de Renda anunciada pelo governo brasileiro (Reuters). A valorização do dólar impactou negativamente empresas com passivos em moeda estrangeira, mas ao mesmo tempo aumentou o interesse de investidores internacionais em fusões e aquisições, ao tornar as empresas brasileiras mais atrativas em termos de valuation.

Contudo, o baixo preço dos ativos brasileiros, resultante da valorização do dólar, é acompanhado por riscos significativos relacionados ao ambiente macroeconômico e cambial. O risco macroeconômico decorre de fatores como inflação persistente, taxas de juros elevadas e um ambiente fiscal desafiador, que aumentam a volatilidade econômica e dificultam previsões de retorno sobre investimento. Adicionalmente, o risco cambial surge da possibilidade de desvalorizações adicionais do real ou instabilidade na taxa de câmbio, o que pode corroer os ganhos em moeda estrangeira, exigindo dos investidores uma análise cuidadosa do equilíbrio entre o retorno potencial e as incertezas associadas ao investimento em ativos locais.

Mudanças Regulatórias e Impacto no M&A

A aprovação da reforma tributária foi um marco regulatório significativo. A proposta visa simplificar o sistema tributário brasileiro, substituindo tributos como IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS por dois novos impostos: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), ambos no formato de Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Para o mercado financeiro e de capitais, a reforma trouxe incertezas, especialmente devido à criação de regimes específicos para serviços financeiros, que podem alterar alíquotas e regras de creditamento. Essas mudanças exigem que empresas e investidores reavaliem suas estratégias de M&A, considerando os novos cenários tributários e seus impactos nos fluxos de caixa e avaliações de empresas.

Balanço do Mercado de M&A em 2024

O mercado de fusões e aquisições (M&A) no Brasil apresentou variações significativas ao longo de 2024. No segundo trimestre, foram registradas 426 operações, representando um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2023 (KPMG). No entanto, de janeiro a setembro de 2024, o mercado brasileiro de fusões e aquisições (M&A) registrou 1.169 operações, representando uma queda de 25% em relação ao mesmo período de 2023. Essas transações movimentaram US$ 29,7 bilhões, uma redução de 11% em comparação ao ano anterior (Veja).

Setores como tecnologia, consumo e varejo lideraram as atividades de M&A. O setor de consumo e varejo, por exemplo, registrou 36 fusões e aquisições no segundo trimestre, um aumento de 19% em relação ao mesmo período de 2023 (Carta Capital). Além disso, o segmento de inteligência artificial (IA) destacou-se globalmente, com 245 transações no primeiro trimestre, totalizando US$35,4 bilhões, um aumento de 168% em relação ao ano anterior (Estadão).

Projeções para 2025

Para 2025, espera-se uma recuperação gradual do mercado de M&A no Brasil. A estabilização macroeconômica, aliada à implementação efetiva da reforma tributária, pode criar um ambiente mais previsível e favorável para investimentos. A simplificação tributária tem o potencial de atrair investidores estrangeiros, fortalecendo a moeda local e reduzindo a volatilidade cambial.

Setores estratégicos como tecnologia, saúde e energia renovável devem permanecer como os principais destinos de capital, sustentados por tendências globais como a digitalização, o envelhecimento populacional e a transição energética. Esses segmentos oferecem oportunidades de crescimento robusto em um cenário econômico global que prioriza inovação, sustentabilidade e eficiência. No entanto, a recuperação do mercado de M&A dependerá significativamente da capacidade do governo de implementar políticas fiscais responsáveis e de controlar o crescimento da dívida pública, que atualmente é uma das principais fontes de preocupação para investidores. Sem uma gestão fiscal eficaz, a confiança pode ser comprometida, aumentando o custo do capital e reduzindo o apetite por novas transações. Assim, a interação entre estabilidade macroeconômica, reformas estruturais e políticas fiscais sólidas será determinante para consolidar um ambiente favorável a fusões e aquisições em 2025.