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ESG Inovação & PI

'O maior desafio que temos até hoje é quebrar o tabu em volta de produtos menstruais'

O Decisor Brasil entrevistou Emily Ewell, CEO da Pantys, femtech brasileira inovadora de calcinhas absorventes. Nessa entrevista exclusiva, ela conta sobre as principais particularidades do mercado brasileiro, os principais impactos ambientais e sociais da Pantys, além do que podemos esperar de novidade da marca

Foto: Divulgação

A Pantys nasceu em 2017 com o objetivo de melhor a qualidade de vida da mulher no período menstrual, bem como minimizar o impacto do uso de absorventes descartáveis. Quais foram os principais desafios do desenvolvimento da marca? E como foram superados?

Nós nascemos como o primeiro player nesse segmento no Brasil e também na América Latina, o que é muita reponsabilidade de fazer um produto muito bom. Nós sabíamos que, por exemplo, se a tecnologia, o conforto da peça e até a beleza do produto, não funcionassem perfeitamente, a marca poderia acabar com esse segmento no mercado. Se a pessoa prova e não gosta, provavelmente não vai arriscar e provar outra marca.

Passamos muito tempo desenvolvendo e tivemos mais de 50 alterações no produto, focamos também muito na parte de funcionalidade e conforto, e no estilo também, que eu acho que é necessário, esse equilíbrio, para conseguir um produto que tem desejo, mas também atende as necessidades das pessoas, suas expectativas ao lado da função.

E depois do lançamento, acho que o maior desafio que temos até hoje é na verdade quebrar o tabu em volta de produtos menstruais no mercado e inspirar as pessoas a fazer essa mudança de vida, que não é o mesmo que comprar um novo sapato, uma nova calça, porque envolve uma mudança de hábito e até uma mudança psicológica, sair da sua zona de conforto, dos produtos que você já conhece e ter “coragem” de provar um produto novo.

A gente sempre recebe esses feedbacks, muitas vezes a primeira tentativa das pessoas é muito inspirada no impacto ambiental, mas que as pessoas voltam para a segunda compra com foco em conforto. A gente vê que é um produto que entrega mais conforto e qualidade de vida. Isso traz uma transformação na relação da pessoa com a menstruação, de não ficar tão incomodada, dormir melhor, ter mais produtividade, até nossos estudos clínicos recebemos bastante feedback nesse ponto de qualidade de vida e isso gera uma ressignificação da menstruação. Acima de 70% das pessoas falaram no nosso estudo que esqueceram que estavam menstruadas, sentiram que estavam em um dia “normal” e isso para mim é um sonho de impacto na vida da pessoa, ela se sentir tão empoderada que se sente em um dia normal.

Ao lado disso, tivemos muitos desafios de produção, nós vendemos todo nosso estoque nas primeiras três semanas da marca, tivemos alguns meses de pré-venda e depois de apenas 4 meses nossa primeira pop-up, então tivemos que ter muita coragem de trazer bastante complexidade para o negócio tão rápido, com o objetivo de despertar as pessoas e realmente ter um lançamento forte como marca e como categoria.

Você possui mais de 20 anos de experiência no setor de saúde e consumo, tendo antes de fundar a Pantys, trabalhado em renomadas empresas internacionais como Novartis e Johnson & Johnson. Como essas experiências passadas te ajudaram na concepção da Pantys e na sua primeira experiência como empreendedora? E quais foram as principais peculiaridades que você notou no mercado brasileiro?

Eu trabalhei vários anos na área da saúde, tanto no setor farmacêutico quanto na parte de consumer, medical devices e inclusive ONGs, onde tive oportunidade de ter essa experiência no lado de impacto, em vários mercados e focado principalmente em diabetes.

O Brasil tem muitas peculiaridades, sendo a maior que enxergo no mercado de menstruação é que 90% das pessoas usam absorventes externos, enquanto nos Estados Unidos e Europa é o contrário, usam absorventes internos. É uma coisa realmente cultural, de preferência, mas no lançamento da Pantys, também observei que o mercado é muito aberto para novidades.

Além disso, o Brasil é um dos poucos países que tem toda a cadeia de produção de várias indústrias e abundância de matéria prima, até na produção e criação de conteúdo. Então essa foi uma super vantagem para Pantys no lançamento e eu falo isso até hoje – o Brasil tem uma economia criativa incrível e muito potencial para inovação, não só no mercado nacional, mas global, e também um pouco mais nesse lado sustentável.

No Brasil acho que existe mais essa percepção que sustentabilidade é luxo, que produtos conscientes são mais caros, mas trabalhamos em quebrar isso, porque você quer democratizar seu produto, então além de ser sustentável, é muito importante para a gente ter produtos acessíveis.

Quando lançamos a Sempre Livre, por exemplo, foi a calcinha absorvente mais barata do mercado global, então a gente tinha muito esse olhar de não ter só produtos premium, mas ter também produtos acessíveis e que também levam economia para o consumidor tendo em vista sua durabilidade. O Brasil é um país que tem uma sensibilidade ao lado do preço, então é uma coisa que falamos cada vez mais, a economia que a pessoa vai ter na aquisição do produto.

A inovação e a sustentabilidade são parte do DNA da Pantys. Você pode nos contar um pouco dos principais impactos que a sua empresa gerou nessas áreas?

Eu tenho uma visão bem diferente do mercado, muito alinhada com a visão do sistema B. Eu acredito muito que não existe empresa 100% sustentável, não existe produto 100% sustentável, a sustentabilidade é um compromisso de ser transparente e sempre melhorar como empresa em todos os sentidos para diminuir o impacto ambiental e aumentar o impacto social. A função das empresas para a sociedade não é só gerar valor financeiro, mas gerar valor em todos os sentidos, financeiro, social, para sua equipe, de saúde, na sua comunidade, e isso também é muito embutido na visão do sistema B.

Quando lançamos, nosso foco era diminuir o lixo gerado pelos produtos descartáveis e, até hoje nós evitamos que mais que 700 milhões de produtos descartáveis fossem para o lixo. Mas também temos, desde o lançamento, novos objetivos no ambiental e fomos também, por exemplo, a primeira empresa do setor de moda a fazer todo seu mapeamento de emissão de carbono e lançar a primeira etiqueta de carbono no mercado brasileiro.

No ano passado compensamos 250 toneladas de carbono, então fazemos todo esse offset, mas também temos planos de redução de emissão, que é o que eu acho mais importante.

Também no ano passado, trocamos toda energia do nosso centro em Sorocaba para energia renovável, a energia solar, e também trocamos todos os nossos tecidos para tecidos degradáveis, com a tecnologia da Rhodia, que é uma tecnologia brasileira. Então realmente temos muitos projetos focados nisso.

No lado social, nosso principal foco é a pobreza menstrual e o acesso. Nosso produto leva muito mais conforto e qualidade de vida, mais sustentabilidade, mas também mais economia. Eu sempre falo, se você dá um absorvente descartável, você dá acesso para um mês, se você dá a Pantys, você dá acesso para anos. Então esse é o nosso grande objetivo.

No ano passado, a gente doou mais de 300 mil reais de calcinhas, então realmente foi um superesforço do nosso lado, até pelo tamanho da empresa, para conseguirmos atingirmos o maior número de pessoas possível. A maioria dos nossos projetos estão em aldeias na Amazônia, mas trabalhamos muito com diversas ONGs e instituições.

Como fundadora e CEO, como você enxerga o jurídico dentro da sua empresa? O que você busca nos operadores do seu jurídico interno e em escritórios parceiros?

Para entendedores, em qualquer lugar do mundo, ter equipes muito eficientes no jurídico é muito importante. O jurídico pode ser quem bloqueia tudo de inovação que você quer fazer ou pode ser quem viabiliza isso também. Nós trabalhamos com muitos escritórios diferentes, seja a parte civil ou de trademark, patentes, entre outros. Temos parceiros que nos ajudam em tudo que queremos fazer.

Por exemplo, temos uma parceria com a Johnson&Johnson, um dos nossos super parceiros, mas que é também um dos nossos concorrentes diretos, então foi um contrato super longo e difícil de fechar.

É muito importante como empreendedor ter equipes que você confie muito, que tem esse olhar de fazer acontecer. Ter o olhar de proteger a empresa, claro, mas também de conseguir achar maneiras eficientes das coisas andarem, porque esse é o grande desafio nessa área de inovação.

Agora como estamos na Europa também, estamos com outra equipe lá, então o jurídico está em todos os passos e sempre montamos equipes que confiamos muito.

O que podemos esperar da Pantys nos próximos 12 meses?

O papel da Pantys é sempre inovar e levar novidades para o mercado. Temos muitas inovações para lançar esse ano. Somos uma marca também bastante ativista, então temos alguns projetos focados em mudanças ambientais, sociais e também de políticas públicas. Achamos muito importante termos uma voz como marca nesse sentido e ajudar nossa comunidade na evolução do mercado.

Algo específico, não posso falar exatamente dos lançamentos que vamos ter, mas tanto na área de family and care, além cuidados femininos, vamos ter novas categoriais de produtos que serão lançados.