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Negócios & Transações

‘É preciso ter uma escuta ativa para realmente compreender o cenário’

Painel do LLAS, evento internacional da Leaders League realizado nesta quinta-feira (6) em Paris, discutiu as perspectivas jurídicas do gerenciamento de crises; debate teve participação de Adriano Chaves, leading partner do escritório brasileiro CGM Advogados

Foto: Yasmin Goes

O painel intitulado “Negotiating in a Crisis Enviroment: The Lawyer’s Perspective” realizado no Leaders League Alliance Summit (LLAS), evento da Leaders League em Paris que aconteceu nesta quinta-feira (6), trouxe a discussão sobre estratégias e desafios durante períodos de crise. O debate foi moderado por Arnold Bussemaker, sócio do escritório alemão Heuking Kuhn Luer Wojtek, e teve participação de Claudia Pinto, head do departamento jurídico da Maiambiente; Luis Graça Rodrigues, head jurídico regional da Minsait; Johan de Bruycker, general counsel da Ageas; Adriano Chaves, leading partner do escritório brasileiro CGM Advogados; e Tuuli Timonen, diretora de licenciamento da Nokia Technologies.

O painel contou com insights dos participantes que foram questionados por Bussemaker sobre o que significava estar em um período de crise e qual seria a melhor atuação do advogados durante esse processo

Luis Graça apresentou sua perspectiva sobre o assunto:

“O mundo não é mais tão previsível como era antes, e nem tudo que consideramos uma crise realmente é. Nós criamos grande parte dos nossos momentos de crise. A crise é um momento estrutural que nos força a mudar. Mas quanto temos uma crise real, o advogado tem sua voz, porque você não sabe o que está acontecendo, não sabemos para onde vamos, o que está sendo feito e o que pode mudar”, afirmou.

Tuuli Timonen complementou trazendo sua visão sobre o que significava estar em um ambiente de crise:

“É verdade que existem crises diferentes. Mas algo comum entre todas é que as empresas ficam mais cautelosas, elas têm mais medo, e o futuro se torna incerto. E, particularmente, quando está se fechando um contrato de longo prazo, precisa ter em mente essa incerteza. Você tem que manter a outra parte válida, porque, se não, o contrato não tem valor.”

Na sequência, Adriano Chaves levantou a questão das negociações dentro da perspectiva da área de M&A, especialmente no Brasil:

“No M&A, durante a crise, usualmente, há uma tendencia a um ‘buyers market’, ou seja, os compradores passam a ter mais poder na negociação, então você vai ver diferentes tipos de questões sendo discutidas. Uma delas é a ‘MAC-clause’, que dá o direito às partes de sair da negociação. Isso aconteceu muito no Brasil durante o período da crise de 2008 e nos pegou de surpresa no momento da negociação. Outra foi tentar alcançar o gap entre o comprador e o vendedor em relação ao valor das negociações, porque, de repente, o comprador queria pagar menos, enquanto o vendedor não queria abrir mão e desvalorizar seu negócio, e passaram a ter grandes discussões em relação a isso.”

Em relação ao papel dos advogados e sua atuação, algumas dicas foram dadas pelos participantes:

“Saber negociar durante um período de crises depende da situação. Se você tem tempo para organizar, o que é preciso fazer é sentar junto com os negociadores e os economistas e mapear os possíveis cenários para crises. O que pode acontecer? E como nossos contratos a longo prazo respondem a esses cenários? Países tem abordagens para se adaptar a questões de crises financeiras, muitas leis distintas, e é preciso ter isso em mente no momento da negociação. Quando a crise bate e você tem um contrato de longo prazo, ele é a única coisa que importa. Clausulas de possíveis ajustes são um caminho para que possíveis mudanças possam ser feitas durante o período de crise”, analisou Timonen.

Na visão dos participantes do debate, no momento da crise é preciso ter agilidade, uma escuta ativa  e adaptabilidade para que as negociações continuem acontecendo.

“Agilidade faz negócios sobreviverem. Como advogados, precisamos entender que é preciso pensar com agilidade. Além disso, é preciso compreender as necessidades das outras partes da negociação, não apenas a sua, pois isso faz com que a negociação se desenvolva com mais facilidade” completou Timonen.

“Em uma crise, você tem mais variáveis em jogo, é preciso ter uma escuta ativa para realmente compreender o cenário e trazer novas sugestões e soluções que possam auxiliar no processo.” concluiu o sócio do CGM Advogados.