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ESG

'Gosto de pensar que sou um exemplo do que a igualdade de oportunidade pode gerar'

Natalie Victal é economista-chefe na SulAmérica Investimentos. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre os desafios para mulheres negras no mercado financeiro e as políticas internas da companhia para promoção da igualdade.

Quais são os principais desafios e oportunidades que você enfrenta na posição de economista-chefe na SulAmérica Investimentos?

Os desafios da profissão são diários, com a mudança constante de cenário, necessidade de análise do panorama da economia local e internacional. Na posição de economista-chefe vem a responsabilidade da projeção das variáveis que serão utilizadas pela instituição nas suas diferentes atribuições. Em particular, de gerar retorno aos nossos clientes. Em paralelo, há responsabilidades comerciais, institucionais e de gestão de pessoas.

Como sua formação e experiências anteriores influenciam sua abordagem para analisar e prever tendências econômicas e de mercado?

Eu gosto de pensar que elas são uma das bases do meu modo de pensar. A formação em economia e o mestrado na área me deram o instrumental para analisar as diferentes situações de forma objetiva e encadeada. Pensar nos determinantes de uma decisão e em como as diferentes variáveis se relacionam. Uma análise baseada em dados, na interpretação dos mesmos. Como a Economia é uma ciência social, há uma componente comportamental nos resultados. Neste sentido, é fundamental ter em mente os incentivos envolvidos nas diferentes situações. E mais uma vez a formação em economia – e o estudo da história econômica – desempenham um relevante papel.

Quanto a experiência, auxilia na análise acerca da relevância dos eventos para o cenário. Parte do trabalho é separar o que é ruído – algo temporário, sem impacto relevante a médio prazo – do que é sinal – algo relevante, que terá impacto nas variáveis. A experiência ajuda nessa análise. Ademais, ajuda a lidar com os mais diferentes desafios. Afinal, se já passamos por uma situação, estamos mais preparados para dar respostas adequadas a situações semelhantes.

Ser uma mulher negra em um cargo de chefia pode trazer desafios únicos. Como você lidou com possíveis obstáculos ao longo de sua carreira?

Eu tive uma jornada privilegiada, muito focada na educação. É uma característica da profissão de economista. Bons mentores e mentoras me ajudaram na tomada de decisões. Entre os grandes obstáculos eu destacaria os sustos em alguns empregos que tive, como o fechamento da empresa em que comecei a carreira como economista. Nesse momento, a rede de contatos, e os supracitados mentores tiveram um papel importante. Ter ambição e foco de que é necessário dedicação e empenho também foram importantes. E pra esses últimos, sem dúvidas, os valores que recebi da minha família foram fundamentais. Neste sentido, acho importante destacar que gosto de pensar que sou um exemplo do que a igualdade de oportunidade pode gerar. Eu tive a sorte de ter uma família na qual seguir estudando não era uma questão. E não é que não havia desafios. A distância era um importante – eu levava 3h por dia pra chegar à faculdade. O apoio financeiro aos estudos – mesmo numa universidade pública – também é uma questão. Sempre fui muito incentivada.

Infelizmente essa não é a realidade de parte relevante da população preta do nosso país. Muitos não seguem estudando porque não tem condições. Ou porque não sabem aonde podem chegar. Mesmo um caso como o meu no qual havia certo privilégio na largada, tem muito trabalho e empenho envolvido. Eu fui descobrindo as oportunidades ao longo da jornada. A falta de conhecimento sobre as potencialidades de uma carreira também é um obstáculo importante a ascensão social.

Quais estratégias a SulAmérica Investimentos adota para promover a diversidade em sua equipe?

A SulAmérica está cada vez mais engajada em colocar em prática ações de inclusão e diversidade dentro de suas diretrizes. Nosso objetivo, sem dúvidas, é reforçar o cuidado para temas essenciais na sociedade, tornando a nossa companhia ainda mais inclusiva e diversa. A SulAmérica Investimentos faz parte de um grupo com relevante representatividade feminina, inclusive em posições de liderança.

Desde 2022, a SulAmérica é signatária de compromissos que possuem foco em equidade de gênero, como a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, do Instituto Ethos; o Equidade é Prioridade, do Pacto Global da ONU e o Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs, sigla em inglês), iniciativa promovida pelo Pacto Global da ONU no Brasil e ONU Mulheres.

Considerando as tendências e os desafios que o setor financeiro tende a enfrentar, como os profissionais, especialmente mulheres e minorias, podem se preparar para as principais mudanças neste mercado?

Eu realmente acredito que a educação e a busca obsessiva por igualar oportunidades é o caminho mais eficiente para redução de desigualdades. Então eu focaria nisso. Não somente acadêmica, mas em tentar informar-se o máximo possível sobre as diferentes áreas do setor financeiro. Coisas simples como manter-se informado. Hoje há muito conteúdo disponível, mas nem toda função no mercado é sobre carteiras de ações. Ainda mais nas posições de entrada. Preparar-se para uma entrevista, por exemplo, é muito importante. Se for falar com uma área econômica ou pesquisa, busque ler que a área produziu. Conhecimentos de programação é cada dia mais visto como um diferencial.

Outro ponto importante é tentar ao máximo não se autossabotar. Buscar aprender, e saber que todas os profissionais foram iniciantes algum dia. Confie no seu potencial, e que você tem todo o mérito nas conquistas que chegarão.