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ESG

‘O espaço dedicado às mulheres no ecossistema de inovação está em expansão’

Rachel Maranhão é cofundadora e CEO da MABE Bio, startup brasileira dedicada à produção de materiais à base de plantas. Nesta entrevista, ela fala sobre a presença feminina no ecossistema de inovação e comenta os impactos econômicos, sociais e ambientais da empresa.

Qual o papel das mulheres no atual cenário de transformação na nossa relação com o meio ambiente?

Devido às características fisiológicas das mulheres, possuímos a incrível capacidade de nutrir e desenvolver vida dentro de nossos próprios corpos. Essa habilidade intrínseca traz consigo dons únicos, que devem ser reconhecidos e valorizados, como a capacidade de gerenciar e executar projetos complexos. Além disso, nossos ciclos mensais nos conectam intimamente com os ritmos naturais, refletindo as fases da lua e demonstrando nossa profunda ligação com a natureza.

Essa conexão inata nos proporciona um entendimento mais profundo da interdependência de todas as coisas, inspirando-nos a adotar uma abordagem estratégica em nossas ações. Somos desafiadas a utilizar nosso poder criativo de maneira consciente e responsável, especialmente no que diz respeito à nossa relação com o meio ambiente e ao empreendedorismo.

Através de nossas iniciativas, temos o poder de contribuir significativamente para a recuperação e preservação ambiental. Para isso, é essencial que ultrapassemos as barreiras impostas pela sociedade e pela indústria, buscando constantemente inovação, novas soluções sustentáveis e os conhecimentos ancestrais.

Na MABE Bio, encontramos uma maneira concreta de impactar positivamente o meio ambiente. Desenvolvemos uma plataforma inovadora que nos permite criar materiais à base de plantas para diversas indústrias. Por meio dela, produzimos um material alternativo ao couro animal e um bioplástico totalmente derivado de plantas brasileiras, demonstrando nosso compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental.

Quais foram os principais desafios que você enfrentou como mulher empreendedora ao iniciar e desenvolver sua startup?

Enfrentei desafios significativos como mulher empreendedora ao iniciar e desenvolver minha startup. Sentia-me sub-representada no ecossistema das startups e no mercado de Venture Capital em geral, uma realidade que poderia facilmente ter me intimidado. Anteriormente, havia trabalhado por muitos anos no mercado financeiro, onde a representatividade feminina também era escassa.

Ao observar os números do empreendedorismo feminino no Brasil, deparamo-nos com uma realidade preocupante. As mulheres representaram em 2022 cerca de 34% dos empreendedores no Brasil, segundo dados divulgados pelo Sebrae com base no IBGE. Isso indica uma presença significativa, porém somos 51% da população brasileira, o que nos mostra que ainda há espaço para aumentar a participação feminina. Outro dado é o de que menos de 5% das startups possui um time formado apenas por mulheres e cerca de 0,04% delas receberam investimento, segundo dados de 2020.

Esses números destacam a importância de promover a igualdade de gênero no empreendedorismo, incentivando o apoio, o financiamento e as oportunidades para as mulheres empreendedoras no Brasil.

Como você avalia o espaço dedicado às mulheres no ecossistema de inovação e empreendedorismo brasileiro?

Apesar dos indicadores pouco animadores, percebo que o espaço dedicado às mulheres no ecossistema de inovação e empreendedorismo brasileiro está em constante expansão. Um exemplo concreto desse movimento é o caso da MABE Bio. Somos uma greentech fundada exclusivamente por mulheres e, na última rodada de investimento anjo, contamos com a participação de investidoras em 66% do total. Esses números não apenas refletem uma mudança, mas também comprovam empiricamente que há uma evolução em curso. Diante desse cenário, acredito que estamos vivenciando um momento excelente para apoiar e fortalecer essa rede crescente de empreendedoras. É crucial aproveitar essa oportunidade para impulsionar a escalabilidade e a representatividade feminina no ecossistema de inovação e empreendedorismo do Brasil.

 

Além dos benefícios ambientais, qual é o impacto social e econômico que sua startup busca alcançar?

Nossa solução contribui para uma indústria globalmente positiva ao remodelar a maneira como os materiais são produzidos e utilizados, fazendo a transição de um modelo de degradação ambiental para um de regeneração e impacto positivo. Nossos materiais se destacam no mercado por serem 100% à base de plantas, biodegradáveis e livres de substâncias tóxicas e plásticos. Ao utilizar tecnologia patenteada, conseguimos escalar para diversos países e indústrias que desejem reduzir seu impacto ambiental, tendo em vista que a matéria prima que usamos também ajuda na restauração do solo e dos ecossistemas.

No que tange o quesito social, ao obter a matéria-prima primária de comunidades locais e fornecer a elas uma fonte de renda a partir de um recurso anteriormente negligenciado, estamos capacitando essas comunidades e contribuindo para seu desenvolvimento econômico. Além disso, nossos materiais são projetados com circularidade em mente. Sendo totalmente à base de plantas e biodegradáveis, podem ser reintegrados ao ciclo de produção e reciclados no final de sua vida útil, enriquecendo o solo em vez de contribuir para resíduos em aterros sanitários.

Em essência, nossa organização está liderando a próxima geração de materiais com um impacto líquido positivo profundo tanto no meio ambiente quanto na sociedade. Estamos estabelecendo um novo padrão para a indústria e demonstrando que a lucratividade pode coexistir com a responsabilidade social e ambiental.