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'Falar de planejamento patrimonial é, fundamentalmente, falar de gente'

Monique Haddad é advogada e Wealth Planner no UBS. Posicionada na 25ª colocação da lista Corporate & Finance Leading Women, ela fala sobre o diferencial das mulheres na prática de planejamento patrimonial e na construção de pontes no relacionamento com as famílias.

Como você descreveria os diferenciais da sua atuação em planejamento patrimonial?

Falar de planejamento patrimonial é, fundamentalmente, falar de gente: tratamos todas as questões patrimoniais e emocionais diretamente com os membros das famílias. Assim, demanda da profissional da área conhecimentos de variadas fontes técnicas, além de habilidades mais sensíveis, envolvendo, por exemplo, comunicação e gestão de conflitos.

Se, por um lado, somos demandadas profissionalmente a entregar excelência, especialidade e profundidade técnica, por outro mostra-se primordial ter um olhar abrangente para o melhor atendimento dos interesses dos familiares, envolvendo diversas áreas do Direito, contabilidade, além de um bom trânsito com questões multi-jurisdicionais, permeado por habilidades comportamentais. Ao longo da minha carreira, concentrei meu foco de aprimoramento técnico no Direito Tributário, sem perder de vista, no entanto, a multiplicidade de temas dentro do próprio Direito Tributário e indo muito além dele, contemplando questões societárias, regulatórias, contábeis, internacionais, dentre outros.

Esse conhecimento técnico associado às habilidades comportamentais que procurei desenvolver em ambiente acadêmico, tais como negociação, comunicação persuasiva e liderança, permitem que eu tenha à minha disposição ferramentas tão múltiplas quanto múltiplas são as demandas das pessoas físicas, famílias e famílias empresárias. Por fim, acredito que o fato de ter trabalhado em diferentes frentes, como advogada em renomados escritórios de advocacia, como sócia de consultoria e como wealth planner em banco internacional, proporciona-me natural visão abrangente, inclusive sob todas as perspectivas que envolvem o atendimento desse especial público.

Quais são os maiores desafios para as mulheres que atuam no setor?

Acredito que um grande desafio geralmente enfrentado pelas mulheres no setor seja o equilíbrio entre empatia com o indivíduo e assertividade no direcionamento de questões, sem se travar pelos fatores emocionais que, certamente, vêm à mesa ao longo do processo de planejamento patrimonial.

Ademais, não posso me furtar de comentar que a questão intergeracional é um grande desafio do planejamento e ainda vivemos numa sociedade primordialmente patriarcal. Neste contexto, não raro a tomada de decisão sobre os rumos dos negócios, do patrimônio e da própria família está concentrada no (e, por vezes, restrita ao) homem-líder da 1ª geração. Neste ambiente, em que as mulheres do próprio núcleo familiar talvez não tenham efetiva voz, ser ouvida, respeitada e considerada profissionalmente no melhor aconselhamento pode ser um fator de especial e adicional dificuldade ao desenvolvimento de um trabalho (trabalho este que, por si só, é complexo, para muito além da questão de gênero).

Apesar da dificuldade primária, acredito que a profissional do setor tem um diferencial importante na intermediação de conflitos e direcionamento de questões sensíveis justamente por seu elemento feminino, muitas vezes podendo construir importantes (e, até então, inexistentes) pontes de comunicação entre os membros da família.

E quais as perspectivas do segmento para o próximo ano?

O segmento tem ganhado especial tração nos últimos anos, por conta do Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (“RERCT” ou, simplesmente, “Anistia”) havido no Brasil nos anos de 2016 e 2017. Este Regime propiciou que as famílias regularizassem patrimônios mantidos no exterior, mas, na prática, observei que tal regularização trouxe todo o patrimônio e a própria família para o centro da tomada de decisão, representando efetiva oportunidade de reorganização.

Não se pode esquecer também do movimento de venda de negócios familiares, que aconteceu nos últimos 20 anos, e também outros processos importantes de abertura de capital. Toda essa conjuntura, associada à maturação do tema de governança corporativa e familiar, fez com que a prática de planejamento patrimonial e sucessório, realmente, ganhasse espaço prioritário na agenda das famílias e, por consequência, na organização dos prestadores de serviço.

Considerando a reforma tributária do Imposto sobre a Renda em curso – envolvendo a tributação de fundos fechados no Brasil e também de ativos mantidos no exterior por residentes no País –, além da potencial tributação de dividendos a ser discutida, acredito que o próximo ano trará consigo ainda mais foco e força ao segmento, sedimentando (e fomentando) a relevância de profissionais qualificadas e capacitadas para o melhor atendimento das famílias.