Decisor Brasil Notícias Top Decisores ‘Falar de planejamento patrimonial é, fundamentalmente, falar de gente’
Top Decisores

‘Falar de planejamento patrimonial é, fundamentalmente, falar de gente’

Como você descreveria os diferenciais da sua atuação em planejamento patrimonial?

Falar de planejamento patrimonial é, fundamentalmente, falar de gente: tratamos todas as questões patrimoniais e emocionais diretamente com os membros das famílias. Assim, demanda da profissional da área conhecimentos de variadas fontes técnicas, além de habilidades mais sensíveis, envolvendo, por exemplo, comunicação e gestão de conflitos.

Se, por um lado, somos demandadas profissionalmente a entregar excelência, especialidade e profundidade técnica, por outro mostra-se primordial ter um olhar abrangente para o melhor atendimento dos interesses dos familiares, envolvendo diversas áreas do Direito, contabilidade, além de um bom trânsito com questões multi-jurisdicionais, permeado por habilidades comportamentais. Ao longo da minha carreira, concentrei meu foco de aprimoramento técnico no Direito Tributário, sem perder de vista, no entanto, a multiplicidade de temas dentro do próprio Direito Tributário e indo muito além dele, contemplando questões societárias, regulatórias, contábeis, internacionais, dentre outros.

Esse conhecimento técnico associado às habilidades comportamentais que procurei desenvolver em ambiente acadêmico, tais como negociação, comunicação persuasiva e liderança, permitem que eu tenha à minha disposição ferramentas tão múltiplas quanto múltiplas são as demandas das pessoas físicas, famílias e famílias empresárias. Por fim, acredito que o fato de ter trabalhado em diferentes frentes, como advogada em renomados escritórios de advocacia, como sócia de consultoria e como wealth planner em banco internacional, proporciona-me natural visão abrangente, inclusive sob todas as perspectivas que envolvem o atendimento desse especial público.

Quais são os maiores desafios para as mulheres que atuam no setor?

Acredito que um grande desafio geralmente enfrentado pelas mulheres no setor seja o equilíbrio entre empatia com o indivíduo e assertividade no direcionamento de questões, sem se travar pelos fatores emocionais que, certamente, vêm à mesa ao longo do processo de planejamento patrimonial.

Ademais, não posso me furtar de comentar que a questão intergeracional é um grande desafio do planejamento e ainda vivemos numa sociedade primordialmente patriarcal. Neste contexto, não raro a tomada de decisão sobre os rumos dos negócios, do patrimônio e da própria família está concentrada no (e, por vezes, restrita ao) homem-líder da 1ª geração. Neste ambiente, em que as mulheres do próprio núcleo familiar talvez não tenham efetiva voz, ser ouvida, respeitada e considerada profissionalmente no melhor aconselhamento pode ser um fator de especial e adicional dificuldade ao desenvolvimento de um trabalho (trabalho este que, por si só, é complexo, para muito além da questão de gênero).

Apesar da dificuldade primária, acredito que a profissional do setor tem um diferencial importante na intermediação de conflitos e direcionamento de questões sensíveis justamente por seu elemento feminino, muitas vezes podendo construir importantes (e, até então, inexistentes) pontes de comunicação entre os membros da família.

E quais as perspectivas do segmento para o próximo ano?

O segmento tem ganhado especial tração nos últimos anos, por conta do Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (“RERCT” ou, simplesmente, “Anistia”) havido no Brasil nos anos de 2016 e 2017. Este Regime propiciou que as famílias regularizassem patrimônios mantidos no exterior, mas, na prática, observei que tal regularização trouxe todo o patrimônio e a própria família para o centro da tomada de decisão, representando efetiva oportunidade de reorganização.

Não se pode esquecer também do movimento de venda de negócios familiares, que aconteceu nos últimos 20 anos, e também outros processos importantes de abertura de capital. Toda essa conjuntura, associada à maturação do tema de governança corporativa e familiar, fez com que a prática de planejamento patrimonial e sucessório, realmente, ganhasse espaço prioritário na agenda das famílias e, por consequência, na organização dos prestadores de serviço.

Considerando a reforma tributária do Imposto sobre a Renda em curso – envolvendo a tributação de fundos fechados no Brasil e também de ativos mantidos no exterior por residentes no País –, além da potencial tributação de dividendos a ser discutida, acredito que o próximo ano trará consigo ainda mais foco e força ao segmento, sedimentando (e fomentando) a relevância de profissionais qualificadas e capacitadas para o melhor atendimento das famílias.

 

Sair da versão mobile