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'As mulheres possuem em média 10 horas a mais por semana de trabalho não remunerado'

Janine Goulart é sócia da área de tributário na KPMG e figura na 17ª colocação da lista Corporate & Finance Leading Women. Durante uma entrevista exclusiva, ela fala sobre as dificuldades sofridas por mulheres na área, a reforma tributária e o atual momento do mercado

Como você descreveria os diferenciais da sua atuação na área tributária?

Na minha área de atuação é crucial conhecer bem meu cliente, entender suas necessidades, estar próximo dele e atendê-lo de forma customizada. Por meio de uma comunicação clara e  honesta, sempre tenho em mente dois principais objetivos, adicionar valor e assegurar o compliance.

Em um mundo cada vez mais acelerado, é fundamental ser sempre mais inovador e eficiente. Por esta razão, sempre nos diferenciamos pela qualidade do nosso trabalho, mas também pelo uso de tecnologia “de ponta”  e comunicação efetiva.

Para mim, atuar de forma diferenciada na área tributária, é ser um trust advisor, estabelecendo uma relação de confiança com meu cliente, onde ele se sentirá seguro para me procurar diante de diversas demandas, sabendo que eu, meus sócios ou outros profissionais muito bem qualificados do nosso time, estarão à disposição dele para prestar um serviço de qualidade, de grande valor.

Quais são os maiores desafios para as mulheres que atuam no setor?

Entendo que os desafios das mulheres neste setor não são poucos, mas são semelhantes a de muitos outros.

Buscar um equilíbrio entre trabalho e rotina pessoal é um dos principais desafios enfrentados pelas mulheres. Seria injusto falar em “dupla jornada”. Atualmente, existem diversos estudos que comprovam que as mulheres possuem em média 10 horas a mais por semana de trabalho não remunerado, o que comprova que faz parte da sua rotina a conciliação de diversas jornadas.

Se comparado ao passado, hoje temos mais mulheres na liderança. Ainda não existe equidade e é preciso aumentar cada vez mais a presença de mulheres em posições de liderança. Mas na minha opinião, um “lugar a mesa já não é mais suficiente”. É crucial garantir que as mulheres sejam realmente ouvidas, que elas tenham participação ativa e influência nas decisões estratégicas.

Vale ressaltar o papel de todos e das empresas na busca pela equidade de gênero.  Na KPMG lidero o KNOW (KPMG’s Network of Women),  programa de equidade de gênero da KPMG. Essa pauta faz parte das prioridades da empresa. Temos um plano de ação robusto e efetivo, onde buscamos a atração, o desenvolvimento e a retenção das executivas, a fim de que tenhamos cada vez mais mulheres na liderança. Acreditamos que tal pauta não é importante apenas em razão dos benefícios para o negócio, mas principalmente porque é o certo a se fazer.

Na sua opinião, quais são as principais pontos de atenção referentes à Reforma Tributária?

Um dos principais pontos de atenção é que para as empresas que produzem ou comercializam bem tangíveis, será imprescindível uma revisão de sua cadeia de suprimentos. No novo sistema, o imposto passa a ser devido no destino e não na origem como é hoje, com novas alíquotas e extinção gradativa dos incentivos fiscais existentes. Em muitos casos, será necessário revisitar as operações e a cadeia de suprimentos.

Já para as empresas de serviços, a preocupação é um potencial aumento da carga tributária. O “ISS” sai de cena e as empresas de serviços passam a estar sujeitas a mesma alíquota das demais empresas. Isso é aplicável para as empresas que operam B2C. Para B2B o impacto tende a ser menor, uma vez que os clientes dessas empresas, a princípio, poderiam reconhecer créditos.

Na proposta apresentada também há a criação de novos tributos, como  por exemplo o Imposto Seletivo, a CIDE na importação de bens incentivados pela Zona Franca de Manaus e do Fundo Estadual para aqueles Estados que hoje possuem cobrança sobre incentivos fiscais concedidos. Os mecanismos de funcionamento desses tributos não estão claros e causa uma certa insegurança jurídica sobre sua abrangência, incidência e alíquotas.

A definição da alíquota dos novos tributos também é um ponto de atenção. Há uma sinalização de que a alíquota deve ficar acima de 25%, principalmente pelo fato das exceções de setores e atividades que foram incluídas no texto.

Vale mencionar ainda que o prazo de transição é bastante longo, pois a reforma será totalmente implementada apenas em 2033. Não há dúvidas que isso demandará um grande esforço das empresas para manter o compliance durante esse período em que conviveremos com dois sistemas distintos.

Apesar dos pontos de atenção acima, a princípio a proposta apresentada e em tramitação tende a simplificar o complexo sistema tributário atual e deve reduzir o chamado “custo Brasil”. Esse é um ponto bastante positivo, a reforma tributária é muito necessária e a proposta apresentada representa um avanço ao regime atual.

E como você vem trabalhando estes tópicos junto ao mercado?

Primeiramente é importante dizer que ainda há muito para contribuir e debater sobre a proposta de reforma tributária. A proposta que tramita no Congresso é uma emenda à Constituição e ela apenas define as diretrizes do novo sistema. O funcionamento de fato do novo sistema tributário ainda será regulado por meio de uma Lei Complementar e ainda há muito o que discutir e propor durante a regulamentação do sistema. Ainda temos um papel importante na contribuição para esse debate.

De outro lado, apesar do prazo de transição ser longo, considerando a relevância do tema e a complexidade, as empresas precisam começar desde já a avaliar os impactos da reforma tributária para o seu negócio específico e, com base nessas análises, iniciar estudos do melhor modelo de negócio considerando as novas regras. Temos contribuído nessa análise com as empresas, tanto com relação a estimativa dos impactos da reforma tributária, como no planejamento dos novos negócios.

Vale lembrar que atualmente se discute muito sobre a reforma tributária do consumo, que é essa que está em debate no Congresso, porém há a expectativa de que o governo apresente a reforma tributária da renda. Essa impactará diretamente o imposto de renda das pessoas jurídicas e também das pessoas físicas. Também temos atuado nesse debate desde já, para anteciparmos tendências e impactos para todos os contribuintes, a fim de que a proposta a ser apresentada esteja alinhada a princípios de simplificação , modernização e crescimento econômico.