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Negócios & Transações

'A TOTVS que se vê hoje é resultado de cerca de 50 aquisições'

O Decisor Brasil conversou com Karolyna Schenk, head de M&A da TOTVS, que fala sobre a estratégia de crescimento da empresa, o impacto da pandemia no setor de tecnologia e a presença feminina em posições de liderança nas grandes corporações.

A economista Karolyna Schenk ocupa a posição de Chief M&A and Coporate Development Officer na TOTVS desde de 2019. Nesta entrevista, ela fala sobre a estratégia de crescimento da empresa, que já passou por cerca de 50 processos de M&A ao longo dos últimos anos. A profissional também analisa o panorama do mercado de trabalho para lideranças femininas, e o impacto da pandemia no setor de TI.

 

Você ocupou cargos de liderança em grandes empresas, como Eurofarma e Experian, até assumir a diretoria de M&A da TOTVS. Como você avalia o espaço dado às mulheres em posições de média e alta gestão nas organizações?

Eu tenho visto um avanço na inserção das mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos, inclusive, já sendo maioria em diversos setores da economia, mas, infelizmente a proporção de mulheres em cargos de liderança permanece baixa na maioria das organizações. As mulheres ainda são menos promovidas que os homens para cargos de liderança, mesmo havendo diversas evidências provando que mais diversidade nos níveis de média e alta gestão aumenta o desempenho organizacional. Infelizmente, muitas mulheres ainda enfrentam desafios quando alcançam cargos de liderança sênior, incluindo remunerações inferiores, vieses inconscientes, escassez de referências femininas e um grupo de colegas mulheres que diminui de forma contínua à medida que se tornam mais seniores. No contexto de M&A, por exemplo, esta realidade é ainda pior e tem um longo caminho de evolução. Em 17 anos de carreira na área, trabalhando em diversos países ao redor do mundo, eu vi poucas mulheres liderando processos e departamentos de M&A – a participação masculina sempre prevaleceu.

Segundo dados da PwC, a indústria de softwares foi responsável por mais de 70% do volume de deals de tecnologia no primeiro semestre de 2023 e apresentou um aumento de 15% comparado ao segundo semestre de 2022. Como você avalia esta tendência?

O volume de deals na indústria de softwares deve seguir esta tendência de relevância e crescimento nos mercados locais e globais de M&A pelos próximos anos, pois como o COVID-19 demonstrou, as empresas, em sua maioria, estão cada mais dependentes de soluções de tecnologia e desejam buscar inovação, transformação digital e digitalização dos seus negócios. Embora ainda haja alguns ventos contrários – especialmente macroeconômicos, o boom de M&A de tecnologia deve persistir. Outro fator chave que contribui para a atratividade em investimentos e M&A em software, mesmo no atual contexto de baixo crescimento, é o modelo de negócios quase sempre baseado em assinatura e recorrência de receita, que permite fluxos de caixa com maior previsibilidade.

Quais são as particularidades de um processo de M&A envolvendo empresas de tecnologia se compararmos com empresas de outros setores?

Para empresas de tecnologia, o processo de análise e execução de um M&A e seus riscos relacionados podem ser bastante diferentes de empresas de outros setores. Estas diferenças ocorrem durante a análise e precificação da target, na fase de due diligence, na negociação dos documentos da transação, assim como em aspectos práticos antes e depois do negócio estar concluído. Os métodos de avaliação tendem a se concentrar mais sobre o potencial futuro do alvo em questão com estruturas de preços que incorporam earnout significativos. Ao contrário das empresas mais tradicionais, empresas de tecnologia tendem a não ter ativos tangíveis significativos, o valor delas está muitas vezes concentrado em ativos intangíveis, como a propriedade intelectual e os dados que ela possui. Além disso, são negócios fortemente dependentes da integridade de sua infraestrutura de TI.

A TOTVS reportou um lucro líquido ajustado de R$ 116,7 milhões no primeiro trimestre de 2023, representando um aumento de 12,7% em relação ao mesmo período do anterior. No acumulado de 2022, o crescimento foi de 36,4% em relação ao ano anterior. Como a estratégia de M&A da companhia se insere nesta performance?

A TOTVS que se vê hoje é resultado de cerca de 50 aquisições. O M&A é um tema e pilar permanente que sempre fez e fará parte da estratégia de crescimento da Companhia. Ele tem sido um viabilizador importante na ampliação e no fortalecimento do nosso core (software de gestão), assim como na criação de novas dimensões de negócios (como Business Performance e Techfin), e isso tem permitido a expansão do nosso mercado endereçável para além do mercado de gestão, dado que os mercados de Business Performance e Techfin são muito maiores do que o de gestão. E mais importante, o M&A tem contribuído para que a nossa oferta de produtos e serviços seja cada dia melhor e mais completa para atender as necessidades dos nossos mais de 75 mil clientes espalhados pelo Brasil e outros países.

O que podemos esperar da TOTVS para os próximos períodos?

A TOTVS tem uma estratégia de crescimento sólida e consistente, sempre associada a uma maior eficiência do negócio, que vem sendo bem executada por um time executivo qualificado e experiente e que está baseada em 3 principais alavancas: desenvolvimento orgânico, parcerias e M&A (pipeline atual forte a ser perseguido). Acreditamos que os nossos diferenciais competitivos relacionados ao modelo de negócio, plataforma de distribuição, portfólio de soluções, estratégia inorgânica e agenda ESG irão nos permitir seguir progredindo de forma consistente e avançando na jornada de construção e desenvolvimento do nosso ecossistema 3D (Gestão, Techfin e Business Performance). Nos vemos prontos e em uma posição privilegiada para aproveitar as oportunidades atuais e futuras, seja organicamente, por parcerias estratégicas e, sem dúvidas, também por M&A.