Inovação & PI

Gestão de riscos em transformação – o novo papel dos controles internos

O artigo tem autoria de Eduardo Luque, membro do Conselho Consultivo do Grupo IRKO

Atravessar períodos de incerteza, requisito básico para a sustentabilidade de qualquer negócio, exige mais do que nunca ir além da eficiência operacional. Em um ambiente em que crises de reputação podem se espalhar em questão de horas, falhas de governança ou de segurança cibernética, por exemplo, podem afetar diretamente a credibilidade – e o desempenho – de uma empresa.

Não à toa, executivos brasileiros atribuem 76% do valor de mercado à reputação geral da companhia, segundo pesquisa da Weber Shandwick. O levantamento lista ainda os três principais benefícios para companhias com reputação forte: fidelização do cliente, diferencial competitivo e bons relacionamentos com fornecedores e parceiros.

É por este e outros motivos que a gestão de riscos mudou significativamente nas últimas décadas. Há algumas décadas, quando os atuais líderes empresariais iniciavam suas carreiras, a gestão de riscos se limitava a controles básicos. Ameaças financeiras eram monitoradas de forma isolada, com processos frequentemente manuais que impediam a conexão entre diferentes tipos de riscos.

Agora, a evolução do ambiente empresarial e regulatório (e das próprias ameaças) transformou completamente essa realidade. Portanto, gestão de riscos deixou de ter função reativa para tornar-se um pilar estratégico fundamental.

Controles internos bem-estruturados funcionam como um sistema integrado que vai além da prevenção de perdas: permitem que a organização assuma riscos de forma consciente e estratégica, com clareza sobre objetivos e impactos potenciais.

O ambiente regulatório acelerou essa transformação de forma decisiva. A Lei Geral de Proteção de Dados, as exigências crescentes de segurança cibernética e a agenda ESG criaram um cenário em que ignorar riscos não é mais uma opção. A pressão é transversal a todos os segmentos e empresas de todos os portes se beneficiam de uma gestão de riscos bem estruturada.

Ao mesmo tempo, a complexidade dos negócios aumentou exponencialmente. Incertezas políticas, volatilidade econômica, inteligência artificial generativa, conflitos geopolíticos, pandemia e intensificação da concorrência criaram um ambiente onde riscos surgem de múltiplas direções, sobretudo nas redes sociais, frequentemente interconectados e com efeitos cascata.

Neste cenário, as empresas passaram a lidar com pontos críticos em outras áreas do negócio. Antes, apenas riscos financeiros eram considerados, porém, atualmente, 60% dos executivos americanos classificam riscos cibernéticos e resiliência digital como áreas críticas, superando riscos operacionais tradicionais. Os dados são de um estudo recente da Protiviti com a Universidade da Carolina do Norte.

Apesar da necessidade clara, a implementação efetiva de controles internos ainda enfrenta obstáculos nas organizações. A primeira barreira é cultural: muitas empresas ainda enxergam controles internos como custo ou mera obrigação regulatória, não como instrumento de sustentabilidade e diferencial competitivo. Essa percepção estreita impede que os benefícios estratégicos sejam percebidos e aproveitados.

A segunda dificuldade está na integração organizacional. Controles eficazes exigem visão holística e prospectiva dos processos, mas isso demanda quebrar silos entre áreas – desafio complexo em estruturas corporativas consolidadas, onde cada departamento historicamente operou de maneira independente.

A resistência à mudança completa esse tripé de obstáculos. Construir uma cultura onde transparência, prestação de contas e melhoria contínua sejam valorizadas não acontece da noite para o dia. Requer liderança consistente, comunicação clara e comprometimento genuíno de longo prazo – começando no topo da pirâmide organizacional.

Mais do que disseminar políticas, é essencial construir uma estrutura de governança robusta que sustente os processos de gestão de riscos. Isso inclui a participação ativa de conselhos, diretorias, comitês e demais áreas operacionais, garantindo que as informações sobre riscos fluam com agilidade entre diferentes stakeholders: acionistas, conselho de administração, diretoria, clientes, fornecedores, reguladores e comunidade.

O uso de ferramentas tecnológicas avançadas desempenha papel fundamental nesse processo, permitindo monitoramento contínuo e análise de dados em tempo real. Isso ajuda a identificar sinais de alerta precoces, antecipar cenários e adaptar-se com agilidade às mudanças no ambiente de negócios. A utilização inteligente da informação fortalece a capacidade organizacional de tomar decisões baseadas em evidências e responder eficazmente a riscos emergentes.

Em um mundo de incertezas crescentes, controles internos robustos deixaram de ser diferencial: são condição essencial de sobrevivência. São eles que garantem a sustentabilidade dos negócios e permitem navegar com segurança em ambientes cada vez mais complexos.