Negócios & Transações

FILASA 2025: Quais serão os setores impactados pela Reforma Tributária?

Discussões entre Pablo Almeida, Managing Director da Cosmos Advisors, Caroline Souza CFO da Roit, Celso Paranhos, tax director da Cosmos Advisor e Juliana Vargas, sócia da Crescera Capital durante o Finance & Law Summit and Awards apontam que mudanças vão além da carga tributária e exigem revisão de estratégias financeiras e operacionais.

A Leaders League Brasil realiza hoje a 6ª edição do Finance & Law Summit and Awards (Filasa). O evento reúne os principais nomes dos mercados jurídico e financeiro para uma tarde de palestras e um jantar de premiação dedicado aos departamentos setoriais.

O primeiro painel da sala Transactions & Deals, intitulado “Fusões e Aquisições: Redesenhando Modelos Financeiros e Estratégicos de Investimento em Decorrência dos Impactos da Reforma Tributária”, foi organizado pela Cosmos Advisor e contou com a mediação de Pablo Almeida, Managing Director da boutique.

Participaram do debate Caroline Souza, CFO e Líder de Reforma Tributária da Roit; Celso Paranhos, tax director e sócio da Cosmos Advisor; e Juliana Vargas, sócia da Crescera Capital.

Logo na abertura, Almeida destacou que a proposta do debate era ir além dos aspectos tributários, provocando uma reflexão sobre os setores que serão mais impactados pela reforma.

Especialista já observam Impactos financeiros

“A gente já pensa em tributos, mas queremos discutir os impactos nos modelos de negócio e os efeitos financeiros que trarão para os investidores, empresas e fundos. Muito provavelmente, todos vão ter que lidar com isso. As questões críticas já estão no radar do mercado e, embora falemos de tributos, queremos concentrar a discussão nos cuidados com modelos e avaliações que as empresas terão que fazer.”

Souza explicou que, mesmo com a reforma ainda em construção, alguns efeitos já são mensuráveis.

“A Roit desenvolveu a calculadora da Reforma Tributária. Mesmo sem todas as regras definidas, a espinha dorsal já está lá. Então, mesmo sendo difícil mensurar os impactos, já temos algumas coisas óbvias: capital de giro e impacto em fluxo de caixa já são algumas das questões que podemos prever.”

Ela ainda apontou que o setor de serviços será um dos mais impactados com a reforma.

“Se eu tiro o INSS de qualquer PIS e Cofins e coloco uma carga tributária que chegue perto de 28%, tem aumento de preço e, automaticamente, aumento de caixa. Então já dá para prever impactos em processos, preços, indicadores. Já é possível começar a se preparar.”

Empresas precisarão rever modelos de negócio e estratégia de preços

Vargas aproveitou o gancho de Souza para trazer exemplos de setores analisados de perto pela Crescera Capital.

“A gente lida muito com empresas de saúde e educação, que, a princípio, têm diferenciais maiores em questões de tributos. Porém, ao mesmo tempo, estamos lidando com outros setores, como uma empresa de planos de serviços funerários. Nesse caso, estamos olhando mais a fundo os impactos, pois será necessário mudar todo o modelo de negócios e produtos.”

Ela destacou a importância da capacidade de repasse de preço por parte das empresas.

“No final, tem uma questão de capacidade de repasse de preço. Se as empresas estão mais ou menos confortáveis, é um dos assuntos que temos olhado. O serviço vai precisar de detalhe. Sobre benefícios, não sei se realmente tem alguém que será impactado beneficamente.”

Almeida concordou com a incerteza apresentada pelas painelistas, afirmando que ainda é difícil prever quem realmente será beneficiado — ou, em suas palavras, menos impactado — e o quanto, de fato, será perdido.

Souza aproveitou para fazer um alerta sobre a falsa percepção de que a carga será reduzida em todos os casos.

“Tem algumas indústrias com redução de carga tributária, mas não significa que não vão ter tributos necessários na cadeia. A empresa é uma substituta tributária de uma cadeia que vem até o consumidor. Então o que não pode acontecer é a redução de um preço de forma ilusória. Não pode haver uma ilusão de que, ao comprar mais barato da indústria, o preço e o tributo vão mudar. O distribuidor não pode pensar isso, pois, na realidade, o preço vai aumentar muito lá no final para o consumidor. Se o preço ficar muito elástico na ponta, como vai afetar a outra?”

Paranhos complementou a discussão destacando a dificuldade de determinar os reais impactos da reforma.

“É difícil ter uma resposta, pois a reforma não é só uma substituição de um tributo por outro. Tem uma sistemática de cálculo inteira. O que vai determinar quais setores serão beneficiados ou não vai passar pela análise de custo da empresa. Empresas que não calculam créditos de etapas anteriores de produção vão ter uma dificuldade maior de determinar esses custos.”

Ele também apontou para o desafio da essencialidade:

“Aquela questão de essencialidade que a parte tributária usa envolve aumento de custo e margem. Então é difícil falar quem é beneficiado ou prejudicado sem sabermos exatamente como é a cadeia dessas empresas — processos de produção, custos, insumos, produtos. Toda essa cadeia já tem um custo carregado. Teria que analisar como estão sendo afetados também. Setores que têm um custo maior voltado para pessoas tendem a ter uma carga tributária aumentada. Já aqueles que têm cadeia de empresas fornecedoras vão ter impactos menores.”