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Compliance Summit: Painel discute risco reputacional em meio as redes sociais

Compliance corporativo e gestão de crises: estratégias para prevenir riscos reputacionais e proteger empresas, com insights de CLA Brasil, Cisco, Motiva, David Rechulski Advogados e instituição financeira

No painel “Compliance como Guardião da Reputação e Pilar da Gestão de Crises: Como Prever Riscos Reputacionais e Evitar Impactos Financeiros e Operacionais”, realizado durante o Compliance Summit Brasil, a CLA Brasil reuniu especialistas para discutir os desafios de antecipar riscos e proteger a imagem corporativa em um ambiente cada vez mais digital e conectado.

A moderação foi conduzida por Honazi Farias, sócio da CLA, com a participação de Paulo Vita, Head de PLD de uma instituição financeira, David Rechulski, sócio do escritório David Rechulski Advogados, Marilia Zulini Loosti, Compliance Director da Motiva, e Marcia Muniz, Senior Director Legal da Cisco.

O debate abordou estratégias práticas para identificar, monitorar e mitigar riscos reputacionais antes que se transformem em crises, reforçando a importância do compliance corporativo aliado à tecnologia.

Riscos Reputacionais na Era das Redes Sociais

Farias iniciou o painel perguntando para Paulo Vita sobre ferramentas e estratégias para mapear riscos antes que eles evoluam para crises: “Considerando nosso tema e você como parte de uma instituição financeira, quais são as práticas que ajudam a antecipar situações de risco reputacional e evitar impactos financeiros e operacionais?”

Paulo Vita destacou que o risco reputacional passou a assumir uma nova dimensão com o advento das redes sociais.

“Hoje temos uma vertente de risco que foge ao controle tradicional das operações. Antes, lidávamos com fraudes contábeis ou questões socioambientais ligadas ao cotidiano da instituição. Agora, basta um funcionário postar algo que viralize ou um CEO se envolver em comportamento indevido em público para gerar um risco reputacional imediato.”

Ele ressaltou que, para enfrentar essa realidade, as empresas precisam monitorar os temas que podem afetar sua reputação de forma constante. “O risco precisa estar no radar, mas deve ser analisado de forma diferenciada. Não sabemos de onde ele vai surgir, quem vai falar ou qual será a velocidade de disseminação. Muitas vezes, ele não está sob nosso controle. Por isso, monitorar e reagir rapidamente é essencial para não perder a narrativa da empresa e evitar que a crise se espalhe, pois apagar ela por completo é difícil”

O Papel da Tecnologia e da Inteligência Artificial na Gestão de Crises

Marcia Muniz reforçou o papel da tecnologia como aliada da prevenção de crises. “A gestão de crises efetiva começa antes que a crise aconteça. A tecnologia e a inteligência artificial permitem identificar, com profundidade, os riscos de uma empresa, monitorar transações e atividades, e definir metas que comprovem a eficácia do programa de compliance.”

Ela destacou que, mesmo em situações complexas, como auditorias ou investigações externas, essas ferramentas permitem demonstrar que a empresa possui pilares sólidos de compliance. “A tecnologia permite monitorar um grande volume de informações e agir preventivamente. Mas quando a crise se instala, é a preparação prévia que permite minimizar danos reputacionais. Crise não é apenas a Polícia Federal batendo na porta às 5h da manhã. Pode ser algo tão sério quanto um caso de exploração de empregados domésticos que viraliza nas redes sociais, afetando a reputação da companhia.”

Construindo e Protegendo a Reputação Corporativa

Marilia Zulini reforçou que a reputação é construída lentamente, com confiança e credibilidade, mas pode ser destruída rapidamente. “Há inúmeros exemplos de empresas que enfrentaram crises por motivos variados — corrupção, questões ambientais, discriminação ou até publicações nas redes sociais em outro país que geraram impacto global. O compliance corporativo deve estar integrado a essa construção, funcionando como a base de uma rodovia: diversas camadas invisíveis que sustentam o pavimento final. Quando a crise surge, essas estruturas permitem que a empresa resista e aja de forma eficaz.”

Segundo Zulini, um programa de compliance sólido permite que gestores atuem com autonomia e segurança. “Durante a crise, o compliance atua para evitar que uma decisão precipitada gere uma nova crise. A reputação é fruto de um processo contínuo e diário, alinhado à cultura de compliance.”

Compliance Além da Legislação: Protegendo Empresas e Sociedade

David Rechulski chamou atenção para a complexidade legal que envolve o compliance corporativo. “O compliance não pode se restringir a quatro leis básicas. Existem cerca de 80 legislações penais que impactam o ambiente corporativo, e esse número pode chegar a 150 dependendo do contexto. O compliance officer deve identificar as áreas mais sensíveis para proteger a empresa e também a sociedade.”

Ele exemplificou a importância de decisões preventivas, inclusive na vida pessoal, como uma forma de gestão de crises: “Durante uma viagem de avião, percebi que uma senhora estava sentada no meu assento. Chamei a comissária e expliquei que poderia ter havido uma duplicidade, pois aquele realmente era o meu lugar. Ela pediu que a passageira mostrasse o bilhete, mas a senhora se recusou. Em seguida, afirmou que, de acordo com a legislação da Aeronáutica, por ter mais de 80 anos, poderia escolher seu assento. Para evitar estresse e uma situação constrangedora, decidi simplesmente ceder o lugar. Imagine se eu tivesse insistido e alguém tivesse filmado a situação: seria um problema de imagem imediato”

Marcia Muniz complementou com humor, ressaltando que pequenas atitudes demonstram a importância da prevenção: “Um chefe meu carregava uma mochila da concorrência. Perguntei por quê, e ele respondeu: ‘Se algum dia eu fizer algo indevido, a culpa vai para a concorrência’”

Farias finalizou afirmando, “se você faz algo e é filmado, sua reputação — ou a da empresa — desaparece em segundos. É por isso que compliance corporativo e gestão de crises precisam caminhar lado a lado, sempre prevenindo, monitorando e reagindo de forma rápida e estratégica.”