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Compliance Summit: Painel debate IA Generativa e desafios do compliance digital

No último painel da manhã do Compliance Summit Brasil, a KPMG trouxe o tema “IA Generativa e Compliance Digital: Como as Ferramentas de IA Estão Transformando o Compliance na Gestão de Riscos Relacionados ao Uso Ético da IA e à Proteção de Dados Sensíveis”. O debate foi mediado por Leandro Johann, sócio-líder de Apps & Infra Corporate Services da KPMG, e contou com Chiara Tonin (iFood), Iagê Miola (ANPD) e Mendel Diesendruck (Microsoft).

Johann abriu a discussão refletindo sobre a história da tecnologia e a evolução da inteligência artificial, contextualizando o impacto que a adoção acelerada de novas ferramentas traz para o compliance. Ele destacou que muitos dos debates atuais têm raízes antigas e que, embora a tecnologia tenha evoluído rapidamente, os desafios centrais permanecem os mesmos:

“Eu trabalho nas masmorras da tecnologia desde sempre, então eu vi o que estamos vivendo hoje desde o nascimento. Trabalho com tecnologia há 30 anos, e o que falamos hoje, em grande medida, já era muito debatido naquela época.”

O sócio da KPMG ainda provocou a reflexão sobre a transformação digital e a adoção de IA:

“A ideia agora é falar sobre os desafios atuais. Como a adoção dessa tecnologia tem sido cada vez mais rápida? Um ponto interessante é: o foco é especificamente a IA ou é a transição de um mundo mais físico para a digitalização? Quando pensamos em dados, informações usadas para treinamento de modelos foram pegas na internet, então o ponto central é que a mudança já ocorreu antes do que estamos vivendo agora. Agora estamos amplificando e acelerando a IA. E quais os impactos disso? Como usamos os dados e informações fornecidas pela IA?”

Chiara Tonin trouxe a perspectiva do iFood sobre o uso de IA e os desafios éticos e humanos. Ela destacou que, apesar da tecnologia fazer parte do dia a dia, é essencial manter a humanidade no centro das decisões:

“A gente trabalha com tecnologia o dia inteiro, então para me distrair faço algo offline, como bordado. Isso levanta a preocupação com o quanto o humano está preso online.”

Tonin ressaltou os riscos do uso indiscriminado da IA:

“Em termos de desafios tangíveis, temos duas perspectivas: aplicar a IA de forma indiscriminada pode trazer tecnologia que não é neutra e dificultar processos. Por outro lado, a IA como tecnologia de controle pode ser uma medida de mitigação de risco.”

Ela reforçou a importância de equilibrar tecnologia e humanidade:

“O grande desafio é manter a humanidade. Não podemos substituir o humano, pois o algoritmo não consegue transformar tudo em algo humano.”

Iagê Miola trouxe a perspectiva regulatória, explicando as mudanças recentes na ANPD e o impacto da legislação para proteção de dados, especialmente de crianças e adolescentes:

“Mudamos de Autoridade para Agência na terça-feira passada, um ganho para a proteção de dados, principalmente por conta da lei 15.211, que visa proteger o ambiente online para crianças e adolescentes. Tenho uma filha de dois anos, então estou totalmente voltado a isso.”

Miola destacou a necessidade de políticas públicas para equilibrar riscos e oportunidades da IA:

“O Estado precisa criar políticas públicas para que o potencial da tecnologia seja atingido. Há um plano aberto de IA brasileira, que envolve infraestrutura, treinamento e parcerias com universidades e escolas. A regulação precisa equilibrar riscos e oportunidades, considerando impactos ambientais e socioeconômicos.”

Ele também explicou a responsabilidade da ANPD mesmo na ausência de uma macroregulação de IA:

“Mesmo sem uma macroregulação da IA, temos o dever de lidar com desafios quando dados pessoais estão envolvidos, sempre sendo transparentes com os usuários sobre o uso das informações.”

Mendel Diesendruck compartilhou a experiência da Microsoft e os aprendizados na aplicação de IA em compliance:

“Eu estou em compliance desde 2018, mas trabalho com isso desde os anos 90. Muitas empresas querem adotar IA muito rápido, e isso exige cuidado e planejamento.”

Ele detalhou como a Microsoft estruturou um escritório dedicado à IA desde 2018, com práticas para mitigar riscos:

“Na Microsoft, temos uma área dedicada desde 2018 para planejar boas práticas de IA, evitando vazamento de dados e outros riscos. Criamos soluções, como um sistema baseado em Power BI, que mostra potenciais riscos comerciais; o analista avalia e valida, mantendo o controle humano.”

Diesendruck ressaltou que a IA não substitui profissionais, mas amplia oportunidades:

“A IA não substitui pessoas, mas cria oportunidades para que trabalhem em funções mais nobres e estratégicas.”