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Inovação & PI

'Cada vez mais executivos jurídicos de empresas estão migrando para escritórios'

Alexandre Ciotti, Head do Jurídico Contencioso do Banco Pan, concedeu uma entrevista exclusiva para o Decisor Brasil, onde aborda temas como o dinamismo, a incorporação da tecnologia e a terceirização para escritórios de advocacia no Contencioso Jurídico

Quais os principais desafios de capitanear o contencioso de uma grande instituição financeira como o Banco Pan?

Quem é de contencioso sabe o quão dinâmico é esse “ramo” do Direito, sobretudo em operações de varejo. Temos como grandes objetivos no Contencioso sermos técnicos, atualizados, tecnológicos, analíticos, com muita visão financeira e absolutamente pró-negócio. Tudo isso para enfrentarmos os desafios constantes (e diversos) que nos são apresentados diariamente. Temos que estar prontos, no mesmo dia, para um despacho absolutamente técnico com um desembargador e para uma conversa com a turma de produtos sobre a viabilidade de um negócio; ou no período da manhã criarmos uma estratégia jurídica que pode trazer para o banco benefícios importantes e no período da tarde, no mesmo dia, pensarmos em métricas mais assertivas para gerir nossos fornecedores. Ou seja, o profissional que está nessa área ou deseja vir para essa área tem que saber, desde sempre, que será provocado muito além da técnica jurídica. Isso é o contencioso.

Como a tecnologia está sendo incorporada no trabalho do contencioso jurídico? Você pode nos falar um pouco dos projetos e iniciativas inovadoras que sua equipe está implementando atualmente?

A tecnologia hoje faz parte do dia a dia da nossa operação. E não podia ser diferente! Quando você possui operações de Varejo, você precisa usar a tecnologia como parceira do dia a dia. Costumo dizer que a tecnologia sozinha não faz milagre, precisa de conhecimento técnico, precisa de gestão, mas contar com ela ajuda demais qualquer projeto. O nosso Contencioso sempre foi conhecido no mercado como área importante do business, com cases inovadores, tecnológicos ou não, mas sempre tentando estar um passo na frente. Isso nos enche de orgulho e de responsabilidade!

Com a ajuda da turma de tecnologia e sistemas, hoje podemos ter muito mais certezas e rapidez em tomadas de decisões e em estratégias antes impossíveis de serem tocadas. Por exemplo, hoje as empresas podem contar com “captura antecipada” de ações. Ou seja, você pode ter um tempo a mais para pensar em estratégias especificas, colher mais informações, subsídios e por aí vai. Outro exemplo é a oportunidade que as empresas possuem de monitorar (o tempo todo) os escritórios que tocam suas ações, e os escritórios que estão do outro lado da disputa – podendo também criar estratégias especificas sobre o tema. Ou, como mais uma hipótese, os contenciosos podem “prever” algumas situações/direções dos processos, principalmente quando se fala em operações massificadas e de certa forma com um certo “padrão”. Enfim, posso dar uma lista de possibilidades, tecnológicas ou não, para que os Contenciosos tragam mais segurança técnica e financeira para o negócio, mas o mais importante ainda é contar com profissionais que saibam manusear e direcionar essas ferramentas. Nem tudo servirá para sua realidade, e isso é fundamental saber para evitar custo e tempo perdido.

Qual a estratégia adotada para definir aspectos do trabalho jurídico que devem ser terceirizados para escritórios de advocacia externos? E quais são os critérios-chave ao escolher um escritório de advocacia para terceirização?

Os escritórios terceirizados são peças fundamentais nessa engenharia do Contencioso. São realmente nossos parceiros no negócio. Quanto a definição do que “terceirizar” ou não, precisamos separar um pouco as áreas. Penso que, se você tem uma operação menor, de atacado por exemplo, você precisa contar com parceiros profundamente especializados neste tipo de operação, mas também precisa contar com profissionais dentro de casa que possam contribuir efetivamente com as peças e estratégias propostas. Agora para operações de varejo, entendo e confio muito no modelo que sempre adotamos e continuaremos seguindo: o modelo de padronização. Quando você tem uma operação de varejo, e com o desafio de manter um time de referência, mas em um número de pessoas equilibrado, você precisa ter na ponta parceiros que possam multiplicar as estratégias que internamente pensamos e desenvolvemos. Por óbvio nossos parceiros sempre trazem muitas contribuições, muitas novidades, muitas informações que só quem está na “ponta” pode receber, e internamente o Contencioso tem o desafio de construir um cenário padronizado de atuação “idêntica” para qualquer município do país – claro, respeitando algumas peculiaridades locais.

Quanto aos critérios para escolha, antigamente era normal um escritório se apresentar para um departamento jurídico exaltando o número de colaboradores e filiais que possuía. Hoje isso mudou. Hoje consideramos a capacidade de absorção de processos com custo competitivo, sem perder a qualidade, uma boa visão analítica/dados desse fornecedor, o conhecimento financeiro/provisão, a parte sistêmica/tecnológica que pode nos oferecer, os profissionais técnicos que possui no seu quadro, entre outros pontos. Aliás, talvez até pelo nível de exigência atual de muitos Departamentos Jurídicos, tenho percebido cada vez mais o movimento de executivos jurídicos de empresas migrando para escritórios, algo que no passado era muito raro, e acho que isso faz total sentido.

Como o departamento jurídico contencioso trabalha para evitar litígios antes que ocorram? Existem programas específicos de prevenção de litígios implementados?

O Contencioso e todas as demais áreas da empresa devem pensar dia e noite em ter sempre um produto melhor, mais redondo, mais viável e simples para o cliente. Esse dever ser o foco. Sempre que um litígio ocorre, nossas áreas buscam a resolução do problema da forma mais rápida e efetiva possível.

Aqui no contencioso, acreditamos muito no que chamamos de “retroalimentação” das áreas. Aqui absorvemos decisões sobre os nossos produtos diariamente – em todo país. Ou seja, é nosso dever acompanhar e reportar isso para as áreas que tocam o negócio e dar alternativas para um cenário menos litigioso e mais eficiente. Certamente se essa dinâmica acontece de forma rápida, muitas ações podem ser evitadas. Temos alguns cases muito relevantes dessa parceria com as áreas e que resultou em quedas expressivas de litígio, e, o mais importante, deixando os produtos e nossa operação cada vez melhor para o nosso cliente.