Negócios & Transações

Crise do Banco Master reforça a necessidade de aprimoramento regulatório, diz ex-ministro

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da fazenda, economista e sócio da Tendências Consultoria, diz que crise do Banco Master expõe risco moral e falhas de supervisão

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decidida pelo Banco Central, colocou o Fundo Garantidor de Créditos diante de sua maior operação desde a criação do mecanismo. O FGC estima desembolsar aproximadamente 41 bilhões de reais, valor que supera de forma ampla o episódio do Bamerindus em 1997, que corresponderia hoje a cerca de 19,7 bilhões. O tamanho da intervenção mostra um sistema capaz de absorver choques pontuais, mas que em alguns momentos ainda carrega brechas estruturais decorrentes da velocidade com que bancos médios podem se expandir antes que a supervisão consiga reagir com efetividade.

Avanço acelerado e supervisão lenta

O avanço acelerado do Master nos últimos anos ocorreu em um ambiente de supervisão que não acompanhou o ritmo da expansão. A instituição elevou sua captação, atraiu investidores com remunerações acima da média e se tornou presença relevante no mercado de CDBs, enquanto sinais de fragilidade eram percebidos apenas gradualmente.

O caso reacendeu o debate sobre o risco moral presente no uso da garantia do FGC. O sócio da Tendências Consultoria e ex-ministro da Fazenda, Dr. Maílson da Nóbrega observa que o mecanismo cumpre função essencial, mas pode alterar a percepção de risco de parte dos investidores. Em suas palavras, “o mecanismo pode, todavia, ser fonte de risco moral, levando o investidor a confiar que será sempre resgatado em caso de problemas no reembolso de seus investimentos”. Ele acrescenta que alternativas como franquias ou limites mais estritos poderiam estimular decisões de investimento mais prudentes.

Segundo o economista, “regras como essas podem evitar excessos, impondo limites mais estreitos para o uso deste mecanismo por instituições menores e de maior risco”. O caso Master acabou mostrando que a popularização de papéis de alta remuneração cria incentivos poderosos para captação acelerada, especialmente quando parte do mercado confia que o FGC absorverá eventuais perdas.

Regras de 2026 ainda podem ser insuficientes

As mudanças previstas para 2026, que incluem maior contribuição das instituições financeiras e redução do limite de captação garantida, foram apresentadas como resposta institucional. Para Maílson, as alterações são positivas, mas ainda insuficientes. Ele afirma que “não está claro se os novos parâmetros são rigorosos o suficiente para desencorajar as instituições menores de oferecer papéis com remuneração muito acima da prática do mercado”. A avaliação é de que o comportamento do mercado após a vigência das regras será determinante para saber se o problema foi realmente contido.

O timing da intervenção e seus limites

O intervalo entre o agravamento da situação do Master e a liquidação oficial levantou questionamentos sobre a atuação do regulador. Em análise cuidadosa, Maílson reconhece que a supervisão brasileira é sólida, mas aponta limitações institucionais que podem justificar a intervenção tardia. Ele afirma que “a autarquia não dispõe de poderes investigatórios necessários à melhor identificação de fraudes, que atualmente costumam ser tarefas típicas da Polícia Federal”.
Esse ponto reforça a crítica velada que perpassa o mercado. O episódio sinaliza que o país desenvolveu bons mecanismos de resposta, mas ainda não solucionou o problema do timing. A liquidação chega sempre depois que a deterioração se torna visível para todos.

O papel dos distribuidores na expansão do Master

O episódio também evidencia o papel dos distribuidores na intensificação das vendas dos papéis do Master. Maílson lembra que “há um problema de risco moral relacionado ao incentivo perverso gerado pela existência deste mecanismo de garantias, o que trouxe o estímulo à venda em larga escala destes papéis”. Ele defende que, além de ajustes regulatórios, é preciso fortalecer a autorregulação do mercado para evitar práticas que ampliem riscos incompatíveis com a estabilidade do sistema.

A operação do FGC demonstra capacidade institucional para lidar com emergências de grande porte. A vulnerabilidade está no fato de que a emergência se formou sem que a supervisão atuasse de modo suficientemente antecipado. A comparação com o Bamerindus mostra avanços significativos, mas também evidencia que o país ainda opera em um modelo que privilegia a reação a crises já instaladas.

O caso Master confirma, nas palavras do ex-ministro, que “o sistema bancário brasileiro é sólido e bem regulado, mas precisa de instrumentos que permitam agir de maneira mais preventiva do que hoje”. Essa avaliação sintetiza o desafio central: aprimorar a capacidade do regulador de intervir antes que distorções se acumulem, especialmente em instituições que crescem mais rápido do que a supervisão consegue acompanhar.

 

A equipe do Decisor Brasil entrou em contato com o FGC para comentar a operação, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição