Decisor Brasil Notícias Inovação & PI ‘Liderar é menos sobre ter todas as respostas e mais sobre fazer as perguntas certas’
Inovação & PI

‘Liderar é menos sobre ter todas as respostas e mais sobre fazer as perguntas certas’

Quais são os principais desafios regulatórios enfrentados pela indústria de embalagens de vidro?

O setor de embalagens em geral enfrenta um cenário regulatório complexo e em constante evolução, pois está diretamente conectado ao conceito de economia circular. As embalagens ainda cumprem seu papel essencial de proteger a essência do produto e destacá-lo nas gôndolas, mas, agora, mais do que nunca, também deve cumprir um papel ambiental fundamental, que é a redução de resíduos gerados. Destaco três desafios regulatórios principais que o setor enfrenta no Brasil e que afetam diretamente a indústria de embalagens. Primeiramente, a regulamentação da Lei 15.042/24, que estabeleceu o Sistema Brasileiro e Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Atualmente, existe a necessidade de definição precisa da Cota Brasileira de Emissão por setor, bem como as metas e incentivos para redução e ou remoção dos gases de efeito estufa, o que criará o mercado regulado de carbono no País. Em segundo lugar, está o amadurecimento da economia circular e a evolução o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, incluindo a maior conscientização de toda sociedade na correta separação e descarte dos resíduos para permitir uma logística reversa efetiva, o que é sempre complexo um País de dimensão continental como o nosso. Mas a minha experiência em Relações Institucionais ensinou a sempre enxergar além das normas, compreendendo o propósito por trás das regulamentações para antecipar tendências e transformar desafios em oportunidades de um diálogo contributivo com as autoridades e a sociedade civil.

Como a empresa encara a crescente pressão por sustentabilidade na cadeia de suprimentos, considerando tanto aspectos jurídicos quanto a competitividade do negócio?

O vidro é feito de apenas quatro ingredientes simples: areia, calcário, carbonato de sódio e o chamado “caco”, que é o vidro reciclado. É, portanto, puro, impermeável e praticamente inerte. Desta forma, a sustentabilidade é parte fundamental do DNA do produto. O vidro é o material de embalagem ideal para apoiar uma economia circular de baixa geração de resíduos. É 100% e infinitamente reciclável, sem perda de qualidade. O vidro simplesmente nunca é lixo. O grande foco da nossa indústria para sustentabilidade é o aumento da eficiência energética e isso passa, necessariamente, pelo processo de reciclagem. Cada 10% de vidro reciclado usado na fabricação e vidro novo reduz o consumo de energia em cerca de 3% e a emissão e carbono em 5%. Cada tonelada de vidro reciclado economiza mais de 1,15 toneladas e matéria-prima. Portanto, o aprimoramento da reciclagem é vital para a circularidade do vidro e isso não representa apenas uma pressão por sustentabilidade vinda a sociedade e dos conceitos ESG, mas sim um cenário em que ser mais sustentável se torna vital para a própria evolução da indústria. Para fornecedores, estabelecemos contratos com cláusulas específicas sobre padrões ambientais e sociais, incentivando nossos parceiros a evoluírem conosco e compartilhar nossos valores, tanto éticos, quanto o de transformar sustentabilidade em vantagem competitiva. Para os clientes, é importante mencionar que optar pelo recipiente de vidro representa mais um passo que os ajudam a alcançar suas próprias metas ESG, criando valor agregado ao produto, pois o vidro tem três vantagens agregadoras e sustentáveis, quais sejam: saúde, como material puro, inerte e impermeável ele não interage com o produto que está protegendo; o sabor, o vidro tem larga vantagem como material sem odor e insípido que preserva as propriedades da sua bebida ou comida favorita; e, claro, a experiência, além da sua total e infinita reciclabilidade, o vidro desperta os sentidos, é bonito, icônico e cria conexões emocionais as marcas com os consumidores por meio do tato da visão e do som.

E como é a interface da sua área com os demais departamentos da companhia?

Vejo o Jurídico como um verdadeiro “conector” na organização. Trabalhamos para eliminar silos e facilitar a colaboração. É preciso entender as pressões e necessidades de cada área para traduzir conceitos jurídicos complexos em orientações práticas e acessíveis. Importante lembrar que a última pesquisa divulgada da Association of Corporate Counsel – ACC feitas com Departamentos Jurídicos de vários países, demonstrou que nos últimos anos 57% dos times jurídicos declararam ter redesenhado seu fluxo de trabalho e 49% declararam ter aumentado o uso de soluções em tecnologia. A interface do jurídico com as demais áreas passa, necessariamente, por isso em qualquer lugar do mundo. Estamos revisando fluxos para trazer maior agilidade, desburocratização, mas com o cuidado de guardar a gestão do conhecimento gerado e maior padronização do trabalho interno e delegado aos escritórios de apoio e o investimento em tecnologia, em especial para geração de dados para a gestão, é simplesmente impossível gerir o que não se pode medir, portanto indicadores bem definidos e trazidos com confiabilidade por uma tecnologia efetiva. A inovação está em todos os lugares e a realidade é que a função jurídica está sendo reinventada, buscando o foco e a experiência do cliente interno e a criação e demonstração de valor.

Você produziu por cerca de 1 ano o podcast ‘Olho no Líder’, que discutiu diferentes modelos e perfis de lideranças. Quais foram os principais aprendizados deste projeto?

O podcast foi uma jornada transformadora. Quando saí da Klabin, a minha ideia foi colocar no mundo um sonho antigo, em homenagem a minha avó Amélia que dizia que eu deveria ser jornalista, pois gostava de entrevistar todo mundo, era muito curioso. Brinco que o programa nasceu na cozinha da minha avó, porque eu gostava de entrevistar todo mundo que passava por lá, descobrir histórias de família e, claro, lições importantes. Ao produzir o podcast eu queria treinar duas habilidades da liderança moderna que considero primordiais, ainda mais em tempos de evolução da Inteligência Artificial, que são i) a habilidade de escutar de verdade, com atenção e envolvimento e ii) fazer as perguntas certas. Eu roteirizo todos os programas após estudar os convidados e tento trazer as perguntas corretas para estimulá-los trazer as melhores histórias e, também, se envolver com programa. Tais habilidades servem, igualmente, no mundo corporativo. Na liderança de times, é preciso escutar a todos atentamente e, também, fazer as perguntas certas para dar espaço para que todos tragam o que tem de melhor. O podcast reforçou minha convicção de que liderar é menos sobre ter todas as respostas e mais sobre fazer as perguntas certas, cultivar um ambiente de confiança e empoderar as pessoas a alcançarem seu potencial máximo.

Quais são as características mais fundamentais para uma liderança jurídica na atualidade?

A importância do esporte na minha formação pessoal e profissional me fez ter o sonho de conectar pessoas e mundos. Aliás, conexão é meu propósito de vida desde a infância, inspirado nas conversas genuínas e pessoais com todos que passavam pela cozinha da minha avó Amélia. Acredito que a liderança se forma ao longo da vida, com base em ética, coragem, disciplina e superação, e isso vale para o esporte e o mundo corporativo. O líder jurídico contemporâneo precisa transcender o papel tradicional de “guardião das regras” para se tornar um verdadeiro protagonista da Conexão, tanto do Time, quanto da visão legal e estratégica do negócio. A liderança se dá, também, pelo exemplo, somos responsáveis por formar a nova geração de líderes jurídicos e, para isso, é preciso demonstrar uma integridade inabalável e compromisso com os valores da organização. No esporte, os capitães mais respeitados são aqueles que lideram com suas ações, não apenas com palavras. Na essência, liderar uma área jurídica hoje é como ser um técnico esportivo: você precisa conhecer profundamente as regras do jogo, mas seu verdadeiro valor está em desenvolver estratégias que permitam à equipe vencer dentro dessas regras, adaptando-se às circunstâncias e inspirando cada membro a dar o melhor de si pelo objetivo comum. O vidro, como material milenar que se reinventou constantemente, nos ensina uma lição valiosa: tradição e inovação podem e devem caminhar juntas. É com essa filosofia que busco liderar nossa área jurídica – preservando valores fundamentais enquanto evoluímos continuamente para atender às demandas de um mundo em transformação.

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