Decisor Brasil Notícias Pessoas & Gestão Compliance se aprende nos livros, mas só se entende nas crises
Pessoas & Gestão

Compliance se aprende nos livros, mas só se entende nas crises

A lacuna silenciosa entre teoria e prática na formação de quem quer liderar a integridade nas empresas

O universo do Compliance evoluiu rápido — e, junto com ele, a oferta de cursos, certificações e conteúdos que prometem formar os profissionais da integridade. A democratização desse conhecimento é um avanço importante para o fortalecimento das boas práticas e cultura organizacionais, mas há um ponto que precisa ser encarado com mais franqueza: a formação dos profissionais ainda está distante das exigências da realidade do dia a dia corporativo.

Hoje, quem entra no mercado já conhece os pilares dos programas de integridade, sabe citar marcos regulatórios e acompanha conteúdos de referência produzidos por instituições reconhecidas pelo mercado. A base teórica está mais acessível do que nunca. Mas, na prática, muitos desses jovens profissionais enfrentam dificuldades quando se deparam com a complexidade das decisões corporativas.

No Compliance, nem sempre o certo e o errado estão separados por uma linha clara. Lidamos com dilemas éticos em contextos cheios de pressões comerciais, disputas, políticas internas e culturas ainda em amadurecimento.

O que falta, portanto, não é conhecimento normativo, mas preparo para navegar em ambientes desafiadores. Liderança de influência, negociação com stakeholders, gestão de crise reputacional e leitura institucional são habilidades que ainda não fazem parte da maioria das formações.

Além disso, é preciso formar profissionais com escuta ativa, maturidade emocional e capacidade de adaptação. O futuro do Compliance não será apenas técnico, mas também estratégico, sensível ao contexto e profundamente humano. Mais do que replicar boas práticas, ele exigirá bom senso, coragem e habilidade em propor soluções que façam sentido para o negócio, sem perder de vista os princípios éticos.

É hora de superar o modelo “engessado” de formação e reconhecer que o profissional de integridade do futuro precisa ir além dos manuais. Precisa entender de gente, de cultura e de impacto reputacional, bem como parar de enxergar o regulatório como barreira e passar a vê-lo como ferramenta de construção de confiança, capaz de gerar métricas e resultados.

No Corrêa Ferreira Advogados, enfrentamos, diariamente, questões que exigem esse tipo de discernimento. Da análise de riscos em cadeias produtivas ao desenho de programas de integridade para setores críticos, nossa atuação tem nos mostrado que, em Compliance, conhecimento técnico é só o começo. O diferencial está na aplicação prática, com sensibilidade, pragmatismo e com foco na efetividade e no contexto do negócio.

Empresas que desejam construir uma cultura sólida de integridade precisam de profissionais e parceiros preparados para atuar com mais flexibilidade, visão estratégica e menos idealismo conceitual, adotando uma mentalidade verdadeiramente orientada à solução. Isso requer abandonar abordagens reativas e desenvolver ações construtivas, capazes de equilibrar ética, resultado e realidade operacional. Só assim será possível gerar impacto real — e ir muito além dos relatórios.

 

Sair da versão mobile